13 de dez. de 2007

Passado e futuro



A raiz de todos os nossos sofrimentos é o pensamento. Ele é que nos leva para as dores do passado e as preocupações com o amanhã. A capacidade de lembrar e de prever é um grande dom dos homens, desde que não nos leve ao sofrimento e desespero. Qual o papel do passado da nossa vida?

A única e exclusiva função do passado é o nosso aprendizado. Aprender com nossos erros, nossos fracassos, nossas quedas. O passado é um mestre e não um algoz.

Quando olhamos para trás e sentimos culpa, mágoa, saudade ou vergonha, estamos nos envolvendo numa teia de sofrimento sem saída porque o que passou, passou e é impossível voltar atrás. Há uma linda história no Antigo Testamento que ilustra magistralmente o perigo de resistir às mudanças por meio do apego ao passado.

Havia duas cidades: Sodoma e Gomorra e Deus resolveu destruí-las. Chamou Ló e sua mulher, comunicou a eles o seu propósito e concedeu-lhes o direito de fugir quando ele estivesse aniquilando as duas cidades e impôs uma única condição: “Quando vocês fugirem da catástrofe, não olhem para trás”. A mulher de Ló, ao transgredir a ordem, foi castigada virando uma estátua de sal. O simbolismo é claro. A estátua é imóvel e o sal conserva.

Viramos estátua de sal quando vivemos a vida pelo retrovisor lamentando o que aconteceu e perdendo a oportunidade de aprender com a experiência. Isto ocorre com freqüência nas relações familiares, sociais ou afetivo-sexuais, quando deixamos o passado dominar nossos relacionamentos, nos esquecendo da beleza de viver daqui pra frente. Se olharmos para trás sem o desejo de crescer, de mudar e, portanto, sem esperança, nos sentiremos desanimados, impotentes e tristes. Grande parte do nosso sofrimento é pensarmos no futuro, por meio do medo, sobretudo o medo de perder o que conseguimos ou o medo de não alcançar aquilo que desejamos. Aqui também duas posturas são possíveis ao olharmos para o amanhã.

Podemos ver o futuro como incentivo à construção da nossa vida, como referência para o nosso desenvolvimento, ou podemos vê-lo como infelizmente, nos foi ensinado, como algo catastrófico, perigoso, atemorizador. A ansiedade, o medo, a preocupação são formas de nos escravizarmos ao futuro. O futuro não é para ser temido, mas construído. Em vez de tentar adivinhar o futuro por meio de nossas superstições e pressentimentos, sabemos que ele será em grande parte aquilo que dele fizermos.
Antônio Roberto
Picture by Claude Monet

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