22 de fev. de 2008

É um erro associar auto-estima ao sucesso


Voltando à questão das origens do problema da perda da auto-estima natural, é importante enfatizar que a criança aprende muito por imitação. Ela percebe como os outros se comportam e procura se comportar da mesma forma, ou o mais parecido que consegue.

Quando uma criança vive num ambiente no qual é estimada e valorizada, ela aprende deste exemplo. "Papai e mamãe gostam de mim, os outros gostam de mim, eu vou gostar de mim também." É uma reação instintiva, faz parte da natureza do aprendizado e coincide com a atitude natural de auto-estima.

Mas a grande maioria dos pais tem medo de que o filho saiba o quanto eles o amam. Simplesmente por que sabem que estão muito vulneráveis a este amor. Minha experiência de pai me mostrou que meu amor pelos meus filhos é absoluto. Gosto deles apenas porque são meus filhos e os amo tanto quanto a mim mesmo. Eles são partes de mim, que se destacaram, têm vida própria e gosto deles de graça. Gosto incondicionalmente, ou seja, não estabeleço condições. Não gosto deles apenas quando tiram nota boa ou quando são bonitos ou quando se comportam bem. Gosto deles sempre. Fico triste, aborrecido se eles não correspondem a alguma expectativa que tenho. Mas sei que este aborrecimento não diminui o meu amor por eles. E tenho - como todos os pais e mães têm também - medo de que eles saibam disso e pensem que se o pai e a mãe gostam deles mesmo quando se comportam mal, mesmo quando tiram nota baixa, então eles podem fazer qualquer coisa.

Este tipo de medo leva os pais a esconderem do filho o quanto eles gostam dele. Em conseqüência, os pais começam a dizer para os filhos que não gostam deles quando se comportam mal, que só gostam deles quando tiram boas notas e quando são obedientes. A criança começa a ter esta informação equivocada de que o amor que recebe é condicionado a coisas variadas como seu comportamento, sua beleza, etc, de que ela merecer e conquistar este amor. O que, já sabemos, não é verdade.

Na medida que a criança entende desta forma e aprende esta lição, passa a copiar este modelo como referência e começa também dizer para si mesma que só pode se gostar se... E aí este 'se' começa a estabelecer condicionamentos: ..se for uma pessoa bem sucedida, ... se for uma pessoa bonita, ... se agradar os pais fazendo o que eles esperam. Isto resulta em um prejuízo permanente da auto-estima.

A partir daí, as pessoas, crianças e adultos, todos os que passaram por este tipo de aprendizado em maior ou menor grau começam a condicionar o amor por si mesmo a determinadas exigências do tipo: 'se eu não for bonito, inteligente'; 'se não conseguir passar no vestibular', etc, não gosto de mim. A pessoa fica derrotada na sua auto-estima. Vemos constantemente jovens e adolescentes que não conseguiram sucesso em algum tipo de desafio ou de exigência que eles se fizeram ou que lhes foi feita e ficam arrasados, com a auto-estima baixa. O que se ganha com isso? O que ganhamos quando torpedeamos a auto-estima dos nossos filhos?

É muito importante que o filho saiba que gostamos dele mesmo se ele não passar no vestibular, mesmo se ele ou ela estão namorando uma pessoa que achamos que não vale a pena, que não merece.... Podemos distinguir perfeitamente bem o que é ficar contente com um comportamento e o que é amar ou deixar de amar. Isto significa separar, colocar em dois pontos completamente diferentes do nosso coração, o que é o nosso amor pelo nosso filho e o que é a nossa satisfação com ele e com o comportamento dele. Quando separamos isto conseguimos também ensinar os nossos filhos a separar o que é a auto-estima do que é o sucesso. E a auto-estima não fica mais dependendo do sucesso, da realização, da conquista, do atendimento às exigências. Quando auto-estima (ou o amor próprio) fica independente, o amor volta a ser de graça.

O processo de recuperação da auto-estima consiste em desmentir os valores equivocados que nos foram ensinados e que estabelecem o sucesso como condição para gostarmos de nós mesmos. Somente com esforço e atenção é que seremos capazes de, com o tempo, reavermos a possibilidade de nos querermos bem independentemente de quem somos. Voltarei ao assunto para desenvolver uma reflexão sobre este processo de recuperação da auto-estima.

Luiz Alberto Py
Picture by Dongregory

Um comentário:

teresa disse...

Sempre agi assim em relação a minha filha, nunca condicionei o amor a nada. Acho que criei ela bem, pois sinto que é segura, realizada. Mas, como conviver com pessoas que condicionam tudo, inclusive o amor? É uma tarefa complicada.
Bjsss

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