21 de jul. de 2008

Até elas sofrem

De frente, Mischa Barton, que virou atriz famosa e imitada por sua participação no extinto seriado O.C., é a perfeita encarnação da juventude saudável e bem delineada. De costas, choque e espanto.
Aos 22 anos, 1,75 metro, 60 quilos, manequim 38, Mischa padece do que parece ser a maldição feminina desde a invenção do maiô: celulite – no caso dela, em volume incomum para peso e idade.

"Quando engordo 1 ou 2 quilos, ela aparece. Mas eu gosto das minhas curvas. Se como menos, faço muita ginástica e emagreço, fico com corpo de menino", suspira ela. Para, em seguida, recitar o mantra das moças pegas em igual flagrante: "Toda mulher tem celulite".


O que é a absoluta verdade, embora o grau do estrago varie de uma leve aparência de casca de laranja (áspera e irregular), só perceptível com a compressão da pele, a nódulos duros e furinhos inconvenientemente visíveis a distância. Até algum tempo atrás, celulite, pelo menos, era coisa de senhoras e meninas acima do peso.


Agora, e Mischa é exemplo disso, a idade mínima das pacientes que chegam aos consultórios se queixando do problema não pára de diminuir. "Antigamente, quem reclamava mesmo tinha mais de 30 anos. Hoje, atendo garotas de 14, 15 anos", confirma a dermatologista Adriana Vilarinho, de São Paulo. "As garotas estão mesmo mais atentas a pequenas imperfeições, mas também têm alimentação ruim, usam pílula mais cedo, não se exercitam. Tudo isso é causa de celulite", alerta a dermatologista paulista Ana Lúcia Recio, que integra a Academia Americana de Dermatologia.

A celulite resulta, basicamente, do acúmulo de gordura e líquidos sob a pele. Os fatores determinantes são sedentarismo, alimentação errada, herança genética e alterações hormonais, sobretudo a ação do estrógeno.

Somem-se os fatos de que

1) o estrógeno é o hormônio feminino por excelência;

2) ele ajuda a reter líquido; e

3) ele contribui para que a gordura se acumule nos quadris e nas coxas – e chega-se a uma das maiores injustiças da natureza: homens raramente têm celulite.

"Eu tenho celulite, mas é pouca. E me cuido para não aparecer mais", diz a irretocável pernambucana Emanuela de Paula, 19 anos, sucesso nas passarelas e presença confirmada no próximo calendário Pirelli.

No dia-a-dia, além de terapia hormonal, ela faz exercício e cuida da alimentação. Sempre que está no Brasil, submete-se a drenagem linfática – uma massagem feita na direção dos gânglios linfáticos que reduz a retenção de líquidos e facilita a eliminação de toxinas – até quatro vezes por semana.

"Comecei a me preocupar com isso quando cheguei a São Paulo para trabalhar. No Recife, nem sabia que drenagem existia", conta Emanuela. Flagrada pela lente da maldade em 2000, quando tinha os mesmos 19 anos de Emanuela, a modelo potiguar Fernanda Tavares, que era e continua a ser linda e magra, ainda soa um tanto magoada: "Esse foco na celulite é uma preocupação muito brasileira.

As pessoas assistem aos desfiles de olho nos defeitos das modelos". Mãe de Lucas, 9 meses, ela já recuperou a forma: perdeu 5 quilos além dos 18 que engordou na gravidez e, graças a dieta, exercício e muita massagem, limitou a celulite ao mínimo.

"Hoje em dia, a celulite é considerada doença. Não é grave, nem contagiosa, nem põe em risco a saúde a longo prazo, mas altera a normalidade do tecido. Por causa dela, a irrigação da pele fica prejudicada. Os vasos sanguíneos e as fibras de colágeno enrijecem e viram ‘traves’ com gordura no meio, o que forma caroços", explica a dermatologista Denise Steiner, coordenadora do departamento de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Para combatê-la, anunciam-se técnicas e aparelhos variados, a maioria deles com resultado zero e todos, sem exceção, de efeito temporário. A modelo catarinense Ana Claudia Michels, 26, valeu-se de boa parte do arsenal para, como uma fênix fashion, ressurgir ainda mais perfeita nas passarelas das recentes semanas de moda, depois de dois anos e meio sem desfilar. "Sempre fui magra demais. Aos 17 anos, meu corpo mudou, ganhei peito, coxa e celulite", conta. "Para voltar agora, fiz tudo o que existe para emagrecer e tomei todos os cuidados para que a celulite aparecesse o mínimo possível."

Os dois meses anteriores foram praticamente dedicados a isso: Ana fazia exercício cinco vezes por semana (uma hora de aeróbico, uma hora de musculação pesada), adotou uma dieta controlada (substituiu doces, massas, refrigerante e álcool por frutas, proteínas e 3 litros de água diários), fez muita drenagem linfática e tratamento com alguns aparelhos sugeridos por sua dermatologista.

Entre eles, o mais elogiado atualmente é o VelaShape – que, dizem, até Madonna usa. Aprovado pelo FDA, o rigoroso órgão controlador de artigos para a saúde nos Estados Unidos, o VelaShape associa ultra-som, radiofreqüência e drenagem mecânica vigorosa. Preço do tratamento: 4.000 reais por quinze sessões, em média. "Cura? Não prometo para ninguém. Mas melhora o aspecto da pele", informa a dermatologista Adriana.

Revista Veja

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