18 de jul. de 2008

Valores criativos e vivenciais


"O homem originalmente se caracteriza por buscar um sentido à sua vida. Devemos construir dentro de nós "um impulso" que nos leve aos valores superiores. Falta a auto-transcendência, isto é, o viver para algo mais que nos ultrapasse, nos sublime.


A auto-realização é possível somente através da auto-transcendência. Quanto mais esquecer o homem de si mesmo – entregando-se a uma causa ou a uma pessoa – tanto mais humano se torna. E quanto mais é absorvido em alguma coisa ou em alguém que não seja ele mesmo,tanto mais se torna homem." Viktor E. Frankl - Buenos Aires – 1987

Quantas pessoas acabaram com a depressão trabalhando, e assim deram sentidoà sua vida! E não é fácil encontrar-se alguém deprimido ou vazio, entusiasmado com um interesse, imediato ou não. O homem tem também umimpulso de auto-transcendência para o Infinito, para Deus.

Necessita de Deus, o único ser capaz de levar o homem à completa realização de si mesmo.
Kierkegaard, sobre a necessidade de tomar decisões: "Aventurar-se causa ansiedade, mas deixar de arriscar é perder a si mesmo".

Em definitivo, o homem pode responder a seus instintos, condicionamentos ou valores, mas, por ser livre, esta resposta depende de sua responsabilidade.


Se tentarmos pesquisar as causas que podem provocar o vazio interior ouexistencial, a falta de sentido da vida, estas podem reduzir-se a duas: aperda do instinto e a perda da tradição. Em contraposição aos animais, ao homem não lhe ditam instintos, os impulsos, o que tem de fazer; também ao homem de hoje já não lhe diz a tradição o que deve fazer; com freqüência parece que não sabe o que realmente quer. Portanto, só lhe interessa querer unicamente o que os demais fazem, ou fazer só o que querem. No primeiro caso nos encontramos ante o conformismo, no segundo, diante do totalitarismo.

A grande enfermidade de nosso tempo é a carência de objetivos, o tédio, a falta de sentido. Ignoramos o que queremos e sentimos, nos faltam interesses imediatos, ideais, objetivos claros, valores que nos motivem.

Uma senhora insatisfeita pela não realização pessoal, sem motivação,deprimida, que havia perdido o interesse por tudo; que não sentia alegria e que estava sem vontade de viver; não se interessava e não gostava do que fazia; só realizava a tarefa diária de casa, mas ninguém a valorizava, pois o marido estava absorvido pelo seu trabalho e os filhos já eram maiores; dizia que as pessoas se preocupavam muito pouco com ela.

Era preciso que usasse sua capacidade de reagir, de trabalhar, de admirar a arte, a beleza das coisas, da paisagem, da natureza..., que tivesse coragem para sair de si mesma, e fizesse o que lhe agradasse, como pintar, participar de alguma reunião com as amigas, que assumisse alguma responsabilidade no trabalho;porque descobrindo no sofrimento, no trabalho, no amor... tudo aquilo que apudesse motivar, sua vida começaria a ter sentido, eliminaria o tédio, ovazio interior, a depressão, a insatisfação pela não realização pessoal; conseguiria encontrar-se e teria a alegria de viver.

Eliminemos, pois, o vazio interior, o tédio, a insatisfação, a ansiedade,através de ideais, de objetivos claros, de valores que nos motivem. Diz Nietzsche: "Quem tem um porque para viver, suporta quase todo qualquer como".

Vamos insistir mais uma vez numa das causas do vazio interior e da falta desentido da vida, na crise de identidade, provocada pelo total distanciamentode nós mesmos.

Hoje o homem moderno é um ser em busca de si mesmo, necessita descobrir-se.Por isso pergunta-se: Quem sou eu e como realizo o que sou? "Ser alguém"é a base pela qual a pessoa se constrói. Mas, diante da experiência de "não ser alguém em si mesmo", o homem se volta para o exterior em busca de algo que oidentifique, para ter "aparentemente" consistência; assim, pensa ser alguémpelo carro, pela roupa... Mas se o homem voltar para dentro de si mesmo,mais facilmente se identificará. (...). A não identidade, que se enclausura numa crise de valores, leva ao vazio, a ansiedade, à apatia, à droga, àagressão, à ânsia de ter coisas, à assimilação, à solidão...

Uma jovem disse certa vez que não sabia porque não era feliz. Dedicava-se bastante ao trabalho e aos demais, amava muito seu marido e seus filhos, gostava de ajudar as crianças pobres, e não lhe faltava nada mas se sentia vazia, com tédio, pois para ela a vida não tinha sentido. A jovem por haver-se dedicado muito ao trabalho e aos demais, havia esquecido de si mesma; precisava de tempo para conhecer-se, para saber quem era e (...) oque era; para não andar por fora, pelos domínios de ter e de fazer (...)pois, quando o homem entra dentro de si mesmo, descobre seus valores e suascarências e a dimensão fundamental de sua identidade humana e cristã.

O homem que tem seu eixo em si mesmo, que não procura no outro sua referência, que vivencia os valores espirituais, está mais capacitado para "ser homem", ser livre e sentir-se realizado. Mais que reclamar da vida temos que ir à luta. Não deixemos que dificuldade alguma nos impeça de conseguir o que desejamos.
Fr. Miguel Lucas

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...