21 de ago. de 2008

Perdas

A crença generalizada na permanência das coisas e das pessoas é uma negação da realidade fundamental da vida humana: a transitoriedade e a impermanência. Qualquer perda é um processo. Navegar nesse processo interno, aumentando a consciência da realidade, é o caminho único capaz de nos levar à finalização do processo doloroso que é a aceitação. Isso leva certo tempo e tem o nome de luto. O caminho do luto, após uma morte, separação ou fracasso, é um caminho conflitivo entre o que aconteceu e que gostaríamos que não tivesse acontecido. Caminhar essa dor exige de nós uma postura ativa de avançar nas várias etapas que constituem a elaboração de qualquer perda. O primeiro mecanismo diante da morte é a negação. Fazemos de tudo para negar e contestar o acontecido: “Não acredito que isso aconteceu”. Se aceitarmos essa fase, diante da importância de reverter a situação, um segundo mecanismo aparece: a revolta, a raiva diante do fato. A irritação e a ansiedade nos levam a blasfemar, a condenar os possíveis responsáveis por aquela perda: a medicina, a vida, Deus etc. Mas com nossa indignação consentida de não conseguirmos mudar o acontecido, passamos para o mecanismo da depressão. Não devemos ter pressa em aceitar a perda, só não podemos empacar em qualquer ponto do processo, transformando a tristeza, por exemplo, num modo de vida. Atravessar a dor é o mais importante. Sofrer, mas andando, compreendendo, aprendendo o real. Toda perda é uma sacudida na ilusão da possibilidade de uma vida perfeita. É um chamado para viver mais intensamente, já que a vida passa e a perda existe. Não existe outra saída para nossas perdas, a não ser atravessar com dignidade esses momentos. A tristeza, raiva, desânimo, saudade, choro, dor são todos sentimentos que devem ser vividos com intensidade quando estamos de luto. Se tivermos em mente a transitoriedade de tudo, sabemos que também esses sentimentos são passageiros. E isso nos permite ver com esperança qualquer fracasso. Já que, mais cedo ou mais tarde, nosso coração voltará à alegria, apesar de tudo.
Antônio Roberto

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