13 de out. de 2008

À espera de Godot

Samuel Beckett, conhecido pela maioria como um autor vinculado ao teatro do absurdo e por alguns como o supremo realista, escreveu esta peça para teatro nos tempos do pós guerra (publicada em 1952). Em cena, à beira de uma estrada junto a uma árvore, encontramos os dois anti-herois da tragicomédia: Estragon e Vladimir. "Nada a fazer" é a primeira fala dita por Estragon que não consegue descalçar a bota - Vladimir responde: "Começo a ter a mesma opinião". E é assim a vida, nada a fazer, a não ser esperar por Godot: quem é Godot não sabemos a não ser que para os dois personagens parece ser importante a sua sempre adiada chegada. No desenrolar entram Pozzo e Lucky, o último é escravo do primeiro: Lucky quando lhe é dada a oportunidade de falar tem um discurso ilegível sem sentido algum. O oprimido não verbaliza, sequer, a sua opressão. Peça circular, o tempo passa para tudo se manter na mesma: um hino sarcástico à anestesia? Os dois personagens permanecem: esperando. A Esperança de Godot seria também uma boa forma de traduzir o título para português porque a esperança de Godot é essa: que esperem por ele. Os humanos até hoje nada mais fizeram do que esperar por Godot, pois agora o que interessa é ir ter com ele e partir-lhe as trombas, diria Marx se tivesse tido a oportunidade de ler este texto ou vê-lo em cena. Ou será Godot uma invenção dos humanos para justificarem as suas prisões, a sua apatia perante os poderosos que lhes usurpam a vida? Então aí há que partir os dentes é a eles, aos poderosos: afinal Godot não existe. Assim sendo: a melhor tradução seria Que Esperem por Godot: é Essa a Esperança dos Poderosos. Enfim, se querem mudar o mundo este texto só vos ajudará a perder tempo enquanto buscam uma forma de agir. Não esperem nada dele. Último diálogo: Vladimir - Então? Vamos embora? Estragon - Vamos. Não se mexem

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