31 de mar. de 2009

A Lavoura e o tempo


O ciclo da agricultura é comparável às nossas vidas, com semeaduras e colheitas 

Um dos principais elementos que regem a vida do agricultor é o tempo. Ele precisa conhecer as estações do ano e agir de acordo com cada uma delas, plantando, cuidando, esperando e colhendo. 

Ele não pode inverter a ordem. Não é possível colher sem ter plantado, a não ser que se queira roubar na propriedade alheia. As tarefas agrícolas não podem ser realizadas com muita antecipação nem com atraso. Na época da chuva não é possível preparar o solo nem lançar a semente. O resultado seria um grande lamaçal, com a enxurrada carregando os grãos. 

Quando chega a época da ceifa, é possível que o lavrador já esteja muito cansado, mas ele não pode relaxar. Adiar a colheita pode significar perda total. "Abundância de mantimento há na lavoura do pobre; mas se perde por falta de juízo." (Pv 13.23). O ciclo da agricultura é comparável à vida de cada um de nós, com muito trabalho, fé em Deus, paciência e produtividade. Salomão comparou a juventude à primavera (Ec 11.10). 

Nossa existência é dividida em estações, com tempos adequados para cada propósito. Não podemos ignorar tal coisa. Não devemos ser precipitados em nossas realizações, adiantando demais os fatos, nem ser omissos, negligentes ou preguiçosos, deixando de fazer aquilo que deve ser feito no tempo certo.

"O que ajunta no verão é filho prudente; mas o que dorme na sega é filho que envergonha." (Pv 10.5). Vejamos alguns exemplos de inversão na ordem natural da vida: há muitas crianças trabalhando, quando deveriam estudar e brincar. Por outro lado, muitos jovens só querem se divertir, quando deveriam também estudar e trabalhar. Outros antecipam as relações sexuais, a gravidez e a constituição da família, sem que tenham se preparado para isso. Algumas vezes, encontramos pessoas bastante idosas que estão ingressando na faculdade, porque não o fizeram na juventude. Todo tempo é propício à aquisição do conhecimento, mas se isso acontecer muito tarde, o indivíduo não colherá o que está plantando. 

"Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou." (Ec 3.1-2). Muitos fatos ocorrem por força das circunstâncias, causando desordem na vida. Compreendemos isso. Entretanto, há quem perca seu tempo por outros motivos: preguiça ou negligência. É imprescindível que cada um se conscientize do momento em que está vivendo. Qual é a estação atual? Para muitos de nós, ainda é tempo de semear, tempo de plantar. Não percamos a oportunidade. Quando chega o tempo de colher, e não existe fruto aprazível, o indivíduo começa a murmurar. Acusa Deus, o governo, os pais e a família. Culpa o destino, revolta-se e se desespera. Entretanto, não se recorda de sua negligência na época da semeadura. Existem também aqueles que vivem praticando o mal sem saber que seus atos são sementes. O que fazem hoje lhes será feito amanhã de modo multiplicado. "Falam palavras vãs; juram falsamente, fazendo pactos; por isso brota o juízo como erva peçonhenta nos sulcos dos campos." (Os 10.4). 

"Lavrastes a impiedade, segastes a iniqüidade, e comestes o fruto da mentira." (Os 10.13). "O que semear a perversidade segará males." (Pv 22.8). "Pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará." (Gl 6.7). Além dos estudos e do trabalho, seja natural ou espiritual, semeamos em cada ato, palavra ou gesto para com o próximo. Cada semente, boa ou má, se multiplicará e retornará para nós no tempo da ceifa. Cabe, portanto, a cada um de nós, escolher bem as sementes para que a nossa colheita seja excelente. Façamos hoje o que deve ser feito, pois amanhã pode ser muito tarde. "E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido." ( Gal.6.9). Queremos colher muito, mas semeamos pouco. 

Somos econômicos na semeadura e ambiciosos na colheita. Fizemos algo para Deus ou para o próximo e achamos que foi suficiente. Não se acomode. Trabalhe mais. Semeie mais. "Mas digo isto: Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e aquele que semeia em abundância, em abundância também ceifará." (2Co 9.6). "Eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça." (João 15.16). Anísio Renato de Andrade
Picture by Jean François Millet

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