A depressão no mundo contemporâneo desafia todas as pretensões da ciência de programar a vida humana em direção a uma otimização de resultados. A depressão é a marca humana porque remete à experiência inaugural do psíquico.
O psiquismo, acontecimento que acompanha toda vida humana sem se localizar em nenhum lugar do corpo, resulta de um trabalho de representação contra um fundo vazio que poderíamos chamar metaforicamente de um núcleo de depressão.
O núcleo de nada de onde há de emergir um sujeito capaz de simbolizar o objeto que lhe falta. Inventamos Deus e seus desígnios de modo a atribuir a Ele a resposta para o enigma do desejo do Outro: o que Ele quer de mim? Assim nos livramos do duro dever de desejar. Contra este pano de fundo de nonsense, solidão e desamparo o psiquismo se constitui em um trabalho permanente de estabelecimento de laços que sustentam o sujeito perante o outro e diante de si mesmo. Freudianamente falando, a subjetividade é um canteiro de ilusões.
As diversas modalidades de ilusões amorosas, edipianas ou não, são responsáveis pela confiança imaginária que depositamos no destino, na importância que temos para os outros, no significado de nossos atos corriqueiros. Não precisamos pensar o tempo todo nisso: é preciso estar inconsciente de uma ilusão para que ela nos sustente. A depressão é o rompimento desta rede de sentido e amparo; momento em que o o psiquismo falha em sua atividade ilusionista e deixa entrever o vazio que nos cerca, ou o vazio que o trabalho psíquico tenta preencher. É o momento de um enfrentamento insuportável com a verdade. A depressão é o nome contemporâneo para os sofrimentos decorrentes da perda do lugar dos sujeitos juntos à versão imaginaria do Outro, é uma posição do sujeito. Há pessoas deprimidas que não conhecem outro modo de existir, são órfãos da proteção imaginária do amor.
A sociedade contemporânea se caracteriza pela paixão pela segurança na qual a idéia de que a vida seja um percurso pontuado por riscos inevitáveis produz uma espécie de escândalo. A desvalorização dos rodeios, dos descaminhos, da errância e de todas as formas de digressão que permitem certo usufruto desinteressado do tempo, em favor de uma finalidade urgente e inquestionável favorece o sentimento genuinamente depressivo de desvalorização da vida. O tempo cotidiano sem a sustentação de uma fantasia a respeito do futuro tornou-se um tempo estagnado, um tempo que não passa.
Crianças que desde pequenas se acostumam a um cotidiano de agenda cheia, no mesmo estilo de seus pais, são privadas do tempo ocioso indispensável ao desenvolvimento da fantasia, do devaneio, da invenção de brincadeiras que não só proporcionam prazer legitimo como emprestam encanto à vida, para muito além da infância. A “vida sem sentido” de que se queixam os depressivos só pode ser compensada pela riqueza do trabalho subjetivo, ao preço de que o sujeito suporte, seu mal-estar. A eliminação farmacológica de todas as formas de mal-estar produz também, paradoxalmente, o apagamento dos recursos de que dispomos para dar sentido à vida..
O psiquismo, acontecimento que acompanha toda vida humana sem se localizar em nenhum lugar do corpo, resulta de um trabalho de representação contra um fundo vazio que poderíamos chamar metaforicamente de um núcleo de depressão.
O núcleo de nada de onde há de emergir um sujeito capaz de simbolizar o objeto que lhe falta. Inventamos Deus e seus desígnios de modo a atribuir a Ele a resposta para o enigma do desejo do Outro: o que Ele quer de mim? Assim nos livramos do duro dever de desejar. Contra este pano de fundo de nonsense, solidão e desamparo o psiquismo se constitui em um trabalho permanente de estabelecimento de laços que sustentam o sujeito perante o outro e diante de si mesmo. Freudianamente falando, a subjetividade é um canteiro de ilusões.
As diversas modalidades de ilusões amorosas, edipianas ou não, são responsáveis pela confiança imaginária que depositamos no destino, na importância que temos para os outros, no significado de nossos atos corriqueiros. Não precisamos pensar o tempo todo nisso: é preciso estar inconsciente de uma ilusão para que ela nos sustente. A depressão é o rompimento desta rede de sentido e amparo; momento em que o o psiquismo falha em sua atividade ilusionista e deixa entrever o vazio que nos cerca, ou o vazio que o trabalho psíquico tenta preencher. É o momento de um enfrentamento insuportável com a verdade. A depressão é o nome contemporâneo para os sofrimentos decorrentes da perda do lugar dos sujeitos juntos à versão imaginaria do Outro, é uma posição do sujeito. Há pessoas deprimidas que não conhecem outro modo de existir, são órfãos da proteção imaginária do amor.
A sociedade contemporânea se caracteriza pela paixão pela segurança na qual a idéia de que a vida seja um percurso pontuado por riscos inevitáveis produz uma espécie de escândalo. A desvalorização dos rodeios, dos descaminhos, da errância e de todas as formas de digressão que permitem certo usufruto desinteressado do tempo, em favor de uma finalidade urgente e inquestionável favorece o sentimento genuinamente depressivo de desvalorização da vida. O tempo cotidiano sem a sustentação de uma fantasia a respeito do futuro tornou-se um tempo estagnado, um tempo que não passa.
Crianças que desde pequenas se acostumam a um cotidiano de agenda cheia, no mesmo estilo de seus pais, são privadas do tempo ocioso indispensável ao desenvolvimento da fantasia, do devaneio, da invenção de brincadeiras que não só proporcionam prazer legitimo como emprestam encanto à vida, para muito além da infância. A “vida sem sentido” de que se queixam os depressivos só pode ser compensada pela riqueza do trabalho subjetivo, ao preço de que o sujeito suporte, seu mal-estar. A eliminação farmacológica de todas as formas de mal-estar produz também, paradoxalmente, o apagamento dos recursos de que dispomos para dar sentido à vida..
Maria Rita Kehl
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