5 de mar. de 2010

Infidelidade em Viver a Vida

A novela das nove da TV Globo, Viver a Vida, provavelmente não entrará na história da teledramaturgia brasileira, mas em termos de polêmica está dando o que falar. É tanta traição, tanta pulada de cerca que até mesmo a rádio Jovem Pan lançou um editorial contra, alegando que a fidelidade acabou e "a devassidão está escancarada". Só o personagem do José Mayer, um sessentão enxuto, já transou e casou uma série de vezes, virando ícone nacional e ganhando até sua série de fatos, aos moldes de Chuck Norris (e a melhor é "se você falar José Mayer três vezes, perde a virgindade"). E com toda essa discussão sobre traições, é óbvio que volta aquela pergunta no ar: o homem é mais infiel que a mulher? Segundo pesquisas, sim. No mais completo estudo já feito sobre a sexualidade do brasileiro conduzido pela psiquiatra Carmita Abdo, 50% dos homens entrevistados e 25% das mulheres afirmaram ter sido infiel alguma vez na vida. E mais: somente 25% dos casados esperam fidelidade na relação, ou seja, 75% sabem que um ou outro (ou os dois) vão da a sua escapadela. Em 2007, o canal americano MSNBC e o website iVillage realizaram uma grande pesquisa com cerca de 70 mil pessoas e viram que lá, entre os casados, 28% dos homens e 18% das mulheres já tiveram seu affair, o que coincidiu com outro estudo realizado 20 anos antes que mostrou 22% dos machos e 15% das mulheres como infiéis. Ainda na pesquisa americana um fato chama bastante a atenção: seis em dez traidores acham que vão sempre sair livre de suas escapadelas e um em dez viram que seu parceiro estava desconfiado de algo. Somente 2% foram pegos e 6% confessaram aos maridos e mulheres que estavam tendo um caso. Assim como no Brasil, 71% dos entrevistados afirmaram estar OK com a traição, e 25% dos homens e 10% das mulheres aprovam a infidelidade se o parceiro ou parceira se desinteressar por sexo. Apesar das estatísticas serem uma forma de encarar as coisas de maneira lógica e racional, há de se considerar que geralmente homens são muito mais abertos a contar seus casos (e ficar com fama de pegador) do que as mulheres (que têm horror de serem consideradas vagabundas por terem pulado a cerca). Aí fica a questão: os homens traem mais ou contam mais? Algo que também sempre me incomodou nesse tipo de número é que por trás de todo homem traidor há uma mulher ajudando-o no "crime". E nem adianta partir do pressuposto que 100% delas não sabem que o cara é comprometido ou casado. Mulheres são parte do problema, então. Ainda não conseguimos mostrar, porém, o porquê do homem trair mais. Isso porque pode ser uma pergunta de múltiplas respostas. Vejamos: 1) Histórica: Holly Hein, autora do livro Sexual Detours: Infidelity and Intimacy at the Crossroads (Desvios Sexuais: Infidelidade e Intimidade na Encruzilhada) afirmou que o homem não foi feito para ser fiel, porque na história da humanidade a intimidade sexual não estava ligada à fidelidade. Mesmo o casamento surgiu como uma necessidade de perpetuação da espécie, com finalidade única de procriação. O conceito de amor romântico só surgiu no século 12. Depois de Cristo, diga-se de passagem. Então casar-se por amor não está enraizado no ser humano, disse a pesquisadora. 2) Genética: em 2008, uma pesquisa de um instituto sueco, Karolinska Institute, mostrou que a disposição de trair dependia do marmanjo ter ou não um gene, a variante 334. Este gene desenvolve um receptor para uma substância chamada vasopresina que, junto com a dopamina e oxitocina, quando em níveis elevados, fazem com que o cara prefira relacionamentos mais estáveis. E mais, esse gene e sua parceira vasoprenina atuam muito mais acentuadamente em homens do que nas mulheres. Então é isso que faz sermos mais infiéis? 3) Comportamental: em 2002, Lucielle Ostertag, do Instituto Italiano de Ciências Sociais, conduziu uma pesquisa para lá de ruidosa para mostrar como e quanto a traição afeta negativamente um casamento. Por incrível que pareça, o resultado mostrou o contrário. Quanto mais traição houver mais longo e feliz é o casório. Só que isso para casos rápidos e sem envolvimento. No ano passado foi a vez da francesa Maryse Vaillant defender a infidelidade masculina. Afirmou que como os homens precisam de seu espaço, as escapadas não são traição e sim alívio. E eles podem continuar a ser monogâmicos. O mais incrível foi a moça dizer que os homens que não traem seguramente têm algum problema. Ou seja, no final das contas todo mundo tem uma explicação plausível e lógica para uma atitude ao mesmo tempo condenada e desejada por todos. Dentro de todas as justificativas, porém, para não se trair, sejam elas religiosas, morais, éticas ou psicológicas, existe uma que acredito ser a mais contundente de todas: você estará fazendo sua parceira de idiota. E aí, não tem história, comportamento ou genética que justifique. Claudio R. S. Pucci

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