14 de jun. de 2010

O cachorro


Nós dois no quarto: meu cachorro e eu.

Lá fora, a tempestade uiva, desenfreada, assustadora. 


O cachorro está sentado à minha frente – e me olha direto nos olhos. Eu também olho para os olhos dele. Parece que quer me dizer alguma coisa.

É mudo, sem fala, nem entende a si mesmo – mas eu o entendo. Entendo que neste instante, nele e em mim, vive o mesmo sentimento e entre nós não existe a menor diferença. Somos idênticos; em cada um, arde e brilha a mesma chama, pequena e tremula. A morte virá voando, vai abanar sobre essa chama suas asas frias e largas...

E fim! Depois, quem poderá distinguir que chama ardeu em cada um de nós? Não! Não são um animal e um homem que se olham... São dois pares de olhos idênticos, concentrados um no outro. E em cada par de olhos, no animal e no homem, a mesma vida assustada tenta se agarrar no outro. 
Ivan Turguêniev 
Tradução: Rubens Figueiredo

Um comentário:

Mente Hiperativa disse...

Caramba! Depois desse eu vou passar a enxergar meu cachorro de uma forma diferente.



Ok, eu não tenho cachorro.

Mas vou enxergar 'algum' cachorro de uma forma diferente =)...

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