15 de ago. de 2010

A ABUNDÂNCIA IRREFUTÁVEL No amontoado de riquezas de uma loja de departamento há em excesso de tudo, e esse excesso é esmagador. O olhar assustado e guiado por uma iluminação que jorra, luxuriante, de toda a parte, não pode abarcar o total dos esplendores oferecidos à cobiça. Antes de escolher esse ou aquele objeto, de se deixar inebriar pela sinfonia das cores e das marcas – pois tudo nessa exibição é classificado, organizado, arrumado segundo uma estratégia da visibilidade absoluta -, inebriamo-nos de bens que não poderemos adquirir e que apenas acariciamos com o olhar. Ser consumidor é saber que haverá sempre nas vitrines e nas butiques mais que o que poderemos levar. Ninguém domina essa selva de tesouros que sugere monstruosas despesas, uma gigantesca máquina de produção e de organização, um infinito de possibilidades ( nos Estados Unidos, cada individuo teria à disposição, em media, um milhão de produtos). Nessas catedrais do supérfluo, nosso erro não está em desejar demais, e sim em desejar de menos. Se a pobreza, segundo santo Tomás, é não ter o supérfluo, enquanto a miséria é a falta do necessário, todos somos pobres na sociedade de consumo: obrigatoriamente tudo nos falta, já que tudo está em excesso. A magia das grandes lojas está em nos libertar da servidão das necessidades imediatas para nos sugerir uma multitude de outras: o único prazer é desejar o que não precisamos. Pascal Bruckner
A tentação da inocência

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