16 de fev. de 2013

Na contramão


“Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?” 
Resposta: Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas. (O Livro dos Espíritos, questão 886.)

Entre a liberdade que Deus nos proporcionou está a de defendermos determinados pontos de vista quando agimos de boa fé. E é exatamente isso que vamos fazer neste artigo, apesar de sabermos que estaremos indo na contramão de tudo o que temos lido recentemente após a tragédia que vitimou os jovens em Santa Maria. Respeitamos o direito de todos aqueles que se manifestam trazendo as explicações espíritas para o fato, embora tudo não passe de hipóteses, já que a realidade somente é conhecida de Deus e dos Espíritos superiores. Escrevemos no território das hipóteses. Pode ter acontecido isso, ou pode ter ocorrido aquilo, mas a verdade, de fato, não sabemos. Fizemos o destaque na resposta dos Espíritos à pergunta 886,  exatamente por entendermos que essas hipóteses todas que desfilam pela internet ferem a indulgência para com as imperfeições alheias.

Vamos ser mais claro: o que pensaria um pai ou uma mãe que ouvisse de um espírita, diante do filho deficiente mental no leito, a explicação de que a criança é assim porque cometeu suicídio em reencarnações anteriores? Em que estaríamos ajudando esses pais diante da dor imensa que os visita dizendo a eles que o filho de hoje foi o suicida de ontem?
Não me consta que Chico Xavier que consolou inúmeras mães tenha dito a alguma delas o seguinte: - Olha, minha filha, seu filho morreu afogado porque em outras vidas ele afogava seus desafetos em um determinado rio.

Não me consta essa atitude do Chico porque ele entendia o sentido da palavra “caridade” como a entendia Jesus.
Não me consta que Chico Xavier dissesse a alguma mãe a quem consolou que o filho morreu de acidente porque em vidas passadas atropelou outras pessoas e agora estava se redimindo desencarnando através de um acidente. Não me consta essa atitude por parte dele.
Não me consta que Chico Xavier tivesse dito a alguma mãe com quem misturou suas próprias lágrimas que o filho tivesse sido assassinado porque em outra vida esse filho houvesse sido um assassino que tirara vida de outras pessoas.
Não me consta que, diante de alguma mãe desesperada porque um ente querido tenha cometido suicídio, Chico Xavier dissesse que assim ocorreu porque em outras vidas essa pessoa tivesse induzido a outra a suicidar-se também. Não me consta. Chico sabia exercer a caridade como a entendia Jesus, com indulgência para com as imperfeições alheias.
Quando ele revelou que as pessoas que desencarnaram no incêndio de um circo em Niterói no ano de 1961 eram Espíritos comprometidos diante da Lei porque haviam, no ano de 177 d.C., queimado a mil pessoas cristãs, entre mulheres e crianças, assim o fez porque o Espírito Humberto de Campos revelou a ele esse fato, evidentemente com a autorização dos planos maiores da Vida.

Quando Chico revelou que as pessoas vitimadas no terrível incêndio do edifício Andraus em São Paulo, no ano de 1972 e, posteriormente, aqueles que desencarnaram no incêndio do edifício Joelma em 1974, eram pessoas participantes das antigas Cruzadas, no século XI, que sob as bênçãos da religião dominante da época, invadiam regiões ocupadas pelos mulçumanos com a desculpa de reconquistar a chamada “terra santa”, matando a muitas pessoas, incendiando, fazendo órfãos, viúvas desesperadas, saqueando, deixando um rastro de desespero em seus caminhos, assim revelou porque do plano espiritual partiu a explicação, jamais da cabeça do Chico. Porque ele, Chico, entendia a caridade como a entendia Jesus.

De que adianta nos levantarmos em “hipoteseologistas” da dor alheia se não sabemos sequer porque sofremos? Queremos ser professores na vida alheia quando não passamos de maus alunos com as nossas próprias vidas? De que adianta dizermos aos pais desesperados da tragédia de Santa Maria que seus filhos desencarnaram de forma lamentável porque fizeram isso ou aquilo em outras vidas? Que sabemos nós? Também nos arrastamos por este planeta de provas e expiações e muitas vezes necessitamos da caridade alheia da forma como a entendia Jesus!

Se desejamos consolar aos que ficaram, revelemos a eles que a imortalidade de seus filhos é uma realidade. De que esses filhos foram amparados por entes queridos que partiram antes. Que o reencontro com esses filhos acontecerá um dia com a mais absoluta certeza, mas nos abstenhamos de levar aos corações que ficaram e emitir vibrações negativas em relação àqueles que se foram, nos arvorando em conhecedores das causas do acidente.
Jesus revelava ao paralítico, ao leproso, ao surdo e mudo, aos obsidiados, aos cegos, os motivos de suas provações ou apenas os socorria e recomendava que não voltassem a reincidir no erro? Ele tinha todas as condições de saber da vida íntima de cada um desses Espíritos, entretanto, praticava a caridade para com as imperfeições alheias! O Chico também.

Oremos pelos que se foram no acontecimento de Santa Maria. Oremos pelos pais aflitos que ficaram e pratiquemos a indulgência para com as imperfeições alheias da mesma forma como necessitamos dessa caridade para com as nossas mazelas...
Ricardo Orestes Forni 

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