As rezas, os
passes, as sessões de leitura do Evangelho no Centro Luiz Gonzaga foram
inúteis. Chico teve
de internar a cunhada num hospício em Belo Horizonte.
Arrasado,
ele acompanhou a doente até o quarto, ficou ao seu lado algumas horas e voltou
para casa à noite. Estava arrasado. O filho caçula da moça, paralítico, chorava na cama,
sozinho. Chico se ajoelhou e começou a rezar. As lágrimas corriam, ele se lembrava do
irmão, se sentia culpado, impotente.
De repente, Emmanuel entrou em cena, incomodado com a choradeira:
- Por que você chora?
Chico contou o drama da cunhada, lamentou a situação do sobrinho e foi
interrompido por um sermão do recém-chegado:
- Não. Você está chorando por seu orgulho ferido. Você aqui tem sido
instrumento para cura de alguns casos de obsessão, para a melhoria de muitos
desequilibrados.
Quando aprouve ao Senhor que a provação viesse para debaixo de seu teto, você
está com o coração ferido, porque foi obrigado a recorrer à assistência médica,
o que, aliás, é muito natural. Uma casa de saúde mental, um hospício, é uma
casa de Deus.
Chico ouviu as críticas em silêncio, mas, entre um soluço e outro, pediu a
recuperação da cunhada o mais rápido possível.
O discurso
se estendeu:
Imaginemos a Terra como sendo o Palácio da Justiça, e a mulher de José como
sendo uma pessoa incursa em determinada sentença da justiça.
Eu sou o
advogado dela e você é serventuário do Palácio da Justiça. Nós estamos aqui
para rasgar ou para cumprir o processo?
Para cumprir respondeu Chico e, ainda aos prantos, insistiu:
O senhor tem que
saber que ela é minha irmã também.
Emmanuel perdeu a paciência de vez:
- Eu me admiro muito, porque, antes dela, você tinha lá dentro, naquela casa de
saúde, trezentas irmãs e nunca vi você ir lá chorar por nenhuma.
A dor Xavier
não é maior do que a dor Almeida, do que a dor Pires, do que a dor Soares, a
dor de toda a família que tem um doente.
Se você quer
mesmo seguir a doutrina que professa, em vez de chorar por sua cunhada, tome o
seu lugar ao lado da criança que está doente, precisando de calor humano.
Substitua
nossa irmã e exerça, assim, a fraternidade.
Com os braços e pernas atrofiados, a expressão atormentada, o filho de Geni
Pena, Emmanuel Luiz, era o retrato do sofrimento.
Revirava-se
na cama, contorcia-se em convulsões, sacudia- se em crises de choro. Um amigo
de Chico ficou impressionado com o estado da criança.
Como Deus,
tão onipotente, admitia tanta dor?
A resposta veio de acordo com a lógica espírita: você colhe o que planta. Cada
um volta à Terra com as seqüelas provocadas por si mesmo em vidas anteriores.
Deus não tinha nada a ver com as tragédias alheias. Cada um é responsável pelo
próprio céu ou inferno.
Emmanuel
repetiria a Chico várias vezes:
- O ontem fala mais alto do que podemos admitir no tempo que chamamos hoje.
As vidas de Chico Xavier – Marcel S Maior
Nenhum comentário:
Postar um comentário