Nós somos vulneráveis em determinadas facetas da personalidade. Quantos casos de pessoas em sofrimentos, dentro dos lances das doenças que vigoram na atualidade, que estão visitadas por determinadas patologias e determinados transtornos porque estão desencorajadas de fazer, atuar, lutar e persistir? Preferem se entregar e se acomodam.
Nós precisamos compreender, antes de mais nada, que não adianta ficar chorando em cima daquilo que nos aperta. É preciso uma ótica mais abrangente.
É por isso que temos diversificação no mundo, uma universalização dos fatos. Enquanto alguém está fixado só na nuvem sobre a sua cabeça, o planeta está rodando em torno de si próprio, numa rotação, trazendo o sol e trazendo a noite. E o que concluímos? Que somos nós mesmos que elegemos uma noite contumaz e fechada.
Os danos provocados pelas conjunturas por que passamos, das mais simples às mais graves, decorrem menos dessas mesmas conjunturas do que do modo como as recebemos. Os acontecimentos não nos pertencem, mas a maneira de suportá-los depende de nós, do nosso estado interior de maior ou menor resistência moral.
Você já parou prá pensar que, de certa forma, não sofremos tanto pelos fatos que acontecem, mas sim pela avaliação que fazemos desses mesmos fatos? O problema do sofrimento não está tanto no campo concreto do acontecimento, está na faixa vibracional que implementamos diante do fato. Não é o acontecimento em si que pesa, é a dimensão que nós damos ao processo ou ao agente a que estamos vinculados.
O problema muitas vezes não são os fatos, e sim as nossas opiniões acerca deles.
Invariavelmente, sofremos muito mais pelo que a mente sugere do que pelo que o fato propriamente apresenta. Porque existem fatos e existem estados de alma e o fato de certa forma revela o estado de alma. Imagine que um parente ou amigo seu chega perto de você e diz assim: "Puxa vida, perdi o meu emprego hoje. Fui demitido. Você não imagina, estou arrasado!" Bem, vamos lá. Perder o emprego e ser demitido não é nada bom, é sempre um acontecimento desagradável. Mas cá prá nós, se é um fato que ele perdeu o emprego, é apenas a opinião dele que ele está arrasado. Está entendendo onde eu quero chegar?
E tem criaturas que vão ao extremo em tudo. A cabeça delas aumenta tudo, e todo extremista é um complicado. Acontece demais de alguém ficar analisando a contingência de sua vida e, de repente, começar a somar certos acontecimentos do dia a dia que justificam o seu estado de alma menos feliz. Não tem disso?
Surgiu um fato desagradável qualquer e o que acontece? Esse fato deveria ter sido visto como algo isolado, provisório, mas não. A pessoa acaba lhe dando dimensões muito maiores, transformando esse componente isolado em algo ampliado.
Ela começa a fazer avaliações em cima de um contexto relativo e acaba jogando o absoluto dento do relativo. Percebeu? Tem gente que vive um problema hoje e costuma reclamar dele daqui a seis meses: "Sabe, até hoje eu tenho as marcas daquele acontecimento." Outra pessoa pode ter passado por aquele mesmo problema no mesmo dia, naquele mesmo horário. De noite, fez uma prece, tomou uma providência e, pronto. Problema resolvido, saiu dele. E o primeiro continua queixando.
Outra coisa que a gente aprende, em termos de dificuldades, é que um acontecimento dificilmente vem sozinho. Então, vão vindo acontecimentos. A gente vai superando e o que mais nos preocupa é que, às vezes, coisas grandes, que poderiam nos causar desequilíbrio, são por nós resolvidas e passam, e a gente fica preso numa situação pequena. Não tem disso? Bate aquela frustração danada: "Meu Deus, o que é isso que está acontecendo? Eu já passei por tantas coisas piores na vida." Ficamos até sem entender. Falamos assim porque vencemos tantas dificuldades vultosas, e uma coisinha simples, uma situação de nada, uma coisinha à toa, uma gotinha d'água, chega e derruba a gente. Aquilo chega e desmorona a gente. A gente sente que tem dose de conhecimento para administrar a questão, sabe da estratégia certa a ser tomada, no entanto cai por uma coisa pequena.
Quantas vezes isso acontece?! No fundo, a criatura até tem os recursos necessários para encontrar a saída, mas porque não encontra? Este é outro ponto. Sabe porquê? Muitas vezes pela falta de uma iniciativa ou pelo orgulho doentio.
Tem gente que cultua uma situação inadequada e fecha o circuito de vida em cima daquilo que não deveria. Não tem gente assim? Até perde sabor da vida com esse tipo de coisa: "Ai, o meu problema. Aprendi que o problema da gente é intransferível. Fazer o quê? Ele é meu." Está correto isso? É uma forma adequada de encarar e viver?
A gente telefona para uma pessoa que está em dificuldade, pergunta prá ela "e aí, fulana, como é que vai?" E ela já vai logo dizendo: "Nossa, você não imagina o que eu estou passando. Sabe aquele problema que você conhece? Pois é, está cada vez pior." E, assim, ela vai arrastando a vida. Quantas pessoas a gente conhece e que estão vivendo assim? Vivem atribuladas, correndo. Para elas as coisas não param. Não tem tempo prá nada. Às vezes acontece dela fechar circuito só em cima do trabalho. Vai passando pela vida amarrada. Não cumprimenta ninguém porque não tem tempo. Acaba ficando uma pessoa insensibilizada. Não tem tempo nem para olhar uma pessoa amiga que encontra casualmente na rua. Mal esta pergunta e ela logo vai dizendo: "Blá, blá, blá..."
Você quer o quê? Ela vive sem tempo. Dá um espaço prá ela e ela logo entra no assunto. E na ótica dela razões existem, e razões suficientes que justificam a sua postura. Faz um dimensionamento de natureza íntima e hiper valoriza o problema, e realmente encontra um argumento para sua vida. E o interessante é que muitas dessas posturas são adotadas por pessoas religiosas. Não quebram as regras, não saem fora do esquema que elas mesmas montam, não saem do mundinho que edificaram, acham que tem que dar conta do recado da forma como ele veio.
Para ilustrar, vamos criar exemplos com nomes fictícios. Cláudia vive aquele padrão rotineiro. Sem mudança, sem sair do esquema traçado. Abrir-se para novas perspectivas? De forma alguma. Para ela tem o dia disso, tem o dia daquilo. No dia de fazer tal coisa tem que ficar só por conta do que está definido. Se bobear, o dia inteiro. Não pode ter mudança.
O Gustavo fica tão envolvido nas faixas que elege para si que passa o tempo e não sorri.
Seu Agenor vive só por conta da família. Isso, sem contar aqueles que transitam apenas no impacto da vida. A vai levando e, por fim, quanta gente desencarna debaixo de grande frustração? O que viveu exclusivamente para a família fica frustrado porque assim que desencarnou o filho mais velho saiu de casa, o do meio brigou com a irmã mais nova, e a situação familiar virou um alvoroço.
Um outro também desencarna entristecido. Passou a vida inteira sem ter lido sequer um livro edificante. E no plano espiritual, o que não falta é argumento. Tem prá todos os gostos: "Olha, lá embaixo eu não tive tempo,... na minha casa o meu povo não me deixava sair,... Meu trabalho não me deu condições, era de sol a sol, e eu fiquei por conta disso." Não acontece assim? E sabe de uma coisa? Tem razão, ficou por conta mesmo. O que alegou que não tinha tempo descobre depois que tinha tempo e passa a sentir uma grande decepção.
Porque ele transformou a chance operacional da tarefa dele num fechamento de circuito.
Quantos simplesmente não passaram a vida presos nisto ou naquilo e não amaram? E amor é algo que não tem como ser guardado no cofre. Ele tem que ser trabalhado.
A evolução é estrada intérmina e não há quem não precise de uma dose de sorriso.
Sem contar que muitos de nós conhecemos aquelas pessoas resolutas e positivas que sabem administrar as situações, sabem se fazer presentes nos compromissos que decidem levar a efeito. Apertam daqui, ajeitam dali, mudam horário. Aproveitam as chances. São lances que não podemos deixar perder.
Não existe peso superior às nossas forças. Não existe. O que existe são planos que eu adoto, que você e adota e que qualquer um de nós adota, de hiper valorização das situações pelos fatores emocionais. Tem também a turma do "deixa isso", "esquece isso", "deixa prá lá". E a questão também não é esquecer as coisas.
Tanto nossa hiper estimação dos acontecimentos, quanto a nossa indiferença dos fatos, tem nos feito sofrer. Quem somos nós para julgarmos as avaliações e as decisões dos outros?! Esse tipo de coisa fica a critério de cada qual. Está certo que cada individualidade tem o seu problema, e que o problema é individual, agora, deixar um problema inteiro ocupar toda a nossa estrutura, está errado.
Temos que saber conviver com as nossas deficiências e falhas. Elas não devem representar para nós fantasmas perturbadores de nossa ordem interior. Além do que, elas só passam a ter um sentido perturbador ou criar transtorno no campo mental quando começam a ser acalentadas por nós de maneira sistematizada.
Ficou claro? Assim, o que é necessário é saber dimensionar os fatos com naturalidade.
Temos que saber filtrar o que é bom, saber optar pelo melhor, a fim de que os impactos que a vida propõe possam ir sendo reduzidos e que possamos encontrar maiores expressões de felicidade, harmonia e paz. Em certos momentos, quando não pensamos nas soluções e adotamos determinadas providências de qualquer jeito, sem utilizarmos a inteligência, costumamos sofrer. E o que é pior, ainda fazemos outros à nossa volta sofrerem.
Os fatos tem que ser trabalhados e dimensionados com inteligência, tem que haver um redimensionamento do fato, para que aquilo que era de feição tenebrosa e triste passe a apresentar um sentido positivo. E para podermos entrar nessa capacidade administrativa do contexto, para sabermos tirar do negativo padrões positivos, e trabalharmos na eliminação desses padrões internos de sombra que nos machucam, é preciso usar uma alta dose de compreensão.
É preciso analisar a forma como estamos encarando acontecimentos. Por enquanto, a gente analisa determinadas circunstâncias pela nossa maneira de reagir, pelas nossas emoções, e não podemos mais deixar que as emoções estejam na ponta delas. É algo importante demais, o êxito depende dessa postura.
Existem estratégias que podemos avocar para nos auxiliar nos encaminhamentos.
Por mais duros que sejam, sempre podemos amenizar a intensidade dos efeitos.
Tudo começa a melhorar quando começamos, por exemplo, a comentar os nossos problemas com os outros com positividade, trocando ideias com equilíbrio.
À medida que passamos a abrir novos lances os fatores de sofrimento vão saneado de forma mais rápida. É interessante melhorar o estado de alma que vigora nas ações, nas decisões. Desarmar o coração, fazer as coisas com naturalidade, começar a trabalhar certas questões de frente, com coragem de encarar, parar de se esquivar.
Manter a capacidade de compreender, de entender, e não ficar se lamentando. Quando existir em sua órbita de vida um problema sério não deixe esse problema fechar circuito em sua mente. Assim que começamos a reduzir a hiper valorização do processo passamos a esquecer mais as nossas dores e dificuldades e passamos a dispensar um tempinho maior para os momentos felizes e bons.
Temos que começar a trabalhar o terreno íntimo do coração, iniciar um processo de terraplanagem ou coisa parecida. E começar a desativar o grito de contrariedade que o fato promove em nós.
Você pode dizer que o campo mental sozinho não faz milagre, que ele sozinho não vai resolver tudo. Certo. Concordo. E em momento algum eu disse o contrário. Todavia, é algo da maior importância para a nossa harmonia. É preciso ter em conta que se ele sozinho não vai resolver, ele, sozinho, relaciona, avalia e dá forças para que a gente possa chegar a bom termo. Não vamos nos esquecer: o nosso trabalho inicial é fixar ponto de referência ao nível de linhas mentais.
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