18 de nov. de 2007

Lucy


Que os Beatles tenham sido mais populares do que Jesus Cristo, como Lennon afirmou numa de suas mais sonoras e polêmicas frases, é obviamente muito difícil, dado o histórico traço judaico-cristão do Ocidente, mesmo que a mídia lhes tenha feito as vezes das cruzadas em direção ao Oriente.
Mas, à parte o criacionismo, Lennon e os Beatles ficam com a vantagem de terem, indiretamente, “batizado” o primeiro ancestral do homem. O cientista Donald Johanson conta no seu livro de divulgação, assinado com Maitland Edey, que, após a localização do fóssil, houve tanta euforia que à noite ninguém dormiu. E um gravador tocou direto o hit Lucy in the sky with diamonds, até que a alguém da equipe ocorreu a idéia de chamarem a descoberta de suas vidas de “Lucy”.
Seria esse um detalhe banal, pois nomes podem surgir quase que de quaisquer coisas ou casualidades? Talvez. Mas, no entremeado terreno da ciência e da cultura, depois de Lucy a história da evolução não pode ser mais contada sem, pelo menos, uma nota de rodapé para os Beatles. E o próprio Johanson o releva: “- Lucy? Essa é a inevitável pergunta de quem vê o fóssil pela primeira vez. E tenho sempre que explicar: - Sim, era uma fêmea. E tem aquela história dos Beatles”.
Quase penitenciando-se, a sobriedade do grande cientista confessa: “Não se esqueça de que ficamos nas nuvens quando a encontramos”. E foi assim, marcando presença na parte que lhes cabia, que a turma do “ié-ié-ié” entrou para as crônicas da ciência. É importante dizer isso, porque em Lucy in the sky with diamonds muitos não enxergaram nada além do que a mera sigla de LSD.

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