4 de jan. de 2009

Mais velhos, porém mais jovens

A atriz Monah Delacy tem hoje 79 anos. A foto da esquerda foi feita quando ela estava com 51 anos. Sua filha, a atriz Christiane Torloni, tem os mesmos 51.


A comparação dos dois retratos mostra como a medicina, associada a uma mudança de comportamento, conseguiu em três décadas, desacelerar o processo de envelhecimento.

Vinte e oito anos separam as duas fotografias que ilustram a abertura desta reportagem. São mãe e filha com a mesma idade – 51 anos. A da esquerda, da atriz Monah Delacy, é de 1980. A da direita, da também atriz Christiane Torloni, foi feita recentemente. Os dois retratos são emblemáticos dos progressos no conhecimento a respeito do processo de envelhecimento. As conquistas nesse campo são enormes. Atualmente não só se vive mais, como é possível manter a aparência jovial por mais tempo. Aos 51 anos, Monah Delacy era uma mulher bonita, sem dúvida, mas com um ar senhoril. Aos 51 anos, Christiane Torloni continua exuberante. 

Os avanços foram tamanhos que muitos pesquisadores acreditam que não demorará a chegar o dia em que homens e mulheres centenários deixarão de ser a exceção da exceção nos países desenvolvidos – e com aspecto e disposição de pessoas com trinta anos a menos. Mais velhos, porém mais jovens. Das três variáveis envolvidas na equação para o aumento da expectativa de vida de uma população, duas, pode-se dizer, estão sob controle: a redução da taxa de mortalidade no início da vida e o aumento dos índices de sobrevivência às doenças típicas da velhice. De modo geral, as crianças se fortalecem graças às vacinas, aos antibióticos, à melhoria da nutrição e das condições sanitárias.

Os idosos, por sua vez, se tornam mais longevos porque a medicina e as ciências farmacêuticas identificam e tratam as mazelas próprias da idade com métodos de diagnóstico mais precisos, técnicas cirúrgicas mais apuradas e medicamentos mais eficazes. A terceira variável é o envelhecimento propriamente dito, um fenômeno de extrema complexidade sobre o qual a ciência vem conquistando vitórias relevantes.
"Embora o caminho para desacelerar ao máximo a degenerescência celular seja longo, hoje sabemos que ele é possível", disse o biogerontologista americano Stuart Jay Olshansky, pesquisador da Universidade de Illinois.

Uma das mais promissoras frentes de pesquisa é a das particularidades que tornam certos indivíduos mais longevos do que outros. A expectativa é que tais trabalhos levem à identificação de substâncias que interajam positivamente com os genes relacionados ao envelhecimento. Cobaias não faltam. A população mundial daqueles que superam um século de existência aumentou drasticamente. Há centenários de três tipos. O primeiro grupo é o dos "sortudos". Com bom acesso à informação e a centros médicos de qualidade, eles conseguem prevenir as doenças próprias da velhice e recuperar-se delas mais rapidamente. O segundo grupo é o dos "adiadores". Eles até padecem dos males típicos do envelhecimento, mas bem mais tarde do que a média da população não centenária. Com a saúde intacta por mais tempo, seu organismo naturalmente dura mais. Os centenários que mais interessam aos pesquisadores, no entanto, são os "dribladores" – aquelas pessoas cujo organismo consegue evitar as doenças da idade e conservar perfeitamente as funções vitais até o derradeiro instante.

Eles não só superam em muito a esperança média de vida, como vivem seus anos finais com mais saúde do que os outros centenários. Entre os "dribladores", principalmente, a longevidade é uma questão de herança genética. A probabilidade de o filho de um "driblador" alcançar a velhice com a robustez de seu pai é até dezessete vezes a da média da população. Nenhum lugar do mundo é mais propício ao estudo dos centenários "dribladores" do que as ilhas japonesas de Okinawa. A região funciona como uma espécie de laboratório isolado pela natureza, onde viver mais de 100 anos é comum. Enquanto a média mundial é de dez centenários em cada grupo de 100 000 pessoas, em Okinawa essa proporção sobe para cinquenta. 


Comparados aos centenários americanos, esses japoneses apresentam índices reduzidíssimos de doenças cardiovasculares, de vários tipos de câncer (mama e próstata, entre eles) e de demência senil. Os estudos mais recentes indicam que os centenários de Okinawa e seus descendentes carregam variações genéticas que os protegem contra determinadas marcas do envelhecimento, como a inflamação crônica e as doenças autoimunes.

A longevidade, contudo, depende sobremaneira da interação de um conjunto favorável de genes com bons hábitos cotidianos. Em Okinawa, eles estão contidos na expressão ikigai, "o que faz a vida valer a pena". No caso, isso significa manter o corpo e a mente ocupados, viver perto da família e ter uma rotina social movimentada. Lá, quase ninguém fuma, quase ninguém bebe em demasia e – atenção, leitor – quase ninguém vive para comer. Os pratos são frugais, basicamente saladas e caldo de peixe com queijo de soja. Carne vermelha, apenas de vez em quando. Uma refeição inteira usualmente tem menos calorias do que um único hambúrguer – e é, sem dúvida, mais nutritiva. Não se está sugerindo aqui que você passe a viver como um habitante de Okinawa. Mas é fato comprovado, desde a década de 30, que organismos que ingerem menos calorias envelhecem mais lentamente.

Os teóricos do envelhecimento suspeitam que a restrição calórica seja um mecanismo de defesa desenvolvido nos primórdios da espécie humana. Quando havia uma seca ou uma mudança abrupta na temperatura, por exemplo, ficava difícil encontrar alimento. Era natural, portanto, que, sob a ameaça de inanição, o organismo concentrasse todos os seus esforços na proteção dos processos essenciais à sobrevivência em curto prazo, diminuindo o ritmo do metabolismo. Não se conhecem ainda todos os mecanismos moleculares e celulares desencadeados pelo comedimento alimentar. Sabe-se, porém, que uma redução calórica média de 30% na dieta diária normal resulta em uma série de dividendos. Um deles é a baixa na liberação de radicais livres, as moléculas tóxicas envolvidas no envelhecimento. Ao receberem menos energia, as células do corpo se desaceleram e, consequentemente, reduzem a produção desse lixo com nome de grupo revolucionário de maio de 1968. 

A contenção no consumo calórico mostrou-se capaz de ampliar o tempo de vida saudável em várias espécies submetidas a experimentos – de moscas drosófilas a macacos, passando por cães labradores. Pesquisas sobre os efeitos dessa restrição em seres humanos comportam dificuldades. Em primeiro lugar, o homem vive muito mais do que qualquer cobaia de laboratório. Além disso, é difícil controlar o dia-a-dia dos voluntários, de modo que eles sigam à risca a dieta prescrita (e, convenhamos, é preciso ter um espírito de sacrifício descomunal para renunciar a um sorvete em nome da ciência). Historicamente, porém, está claro que os que seguem com regularidade uma dieta parca e saudável apresentam uma taxa de mortalidade 8% menor que a da população de mesma faixa etária. A Sociedade de Restrição Calórica, nos Estados Unidos, acompanha voluntários que se prontificaram a seguir a restrição alimentar desde 2002 (quem disse que não existe gente com um espírito de sacrifício descomunal?). 

Dados divulgados entre 2004 e 2007 atestam que os adeptos da dieta registraram queda significativa da pressão sanguínea, perda de quase 70% da gordura corporal e redução de 80% do nível de insulina no sangue. Se tais informações ainda não permitem aos pesquisadores dizer que esses voluntários vão efetivamente viver mais, significam ao menos que os riscos de doenças cardiovasculares e diabetes entre eles se estreitaram. A atenção de muitos estudiosos se volta para a família das enzimas sirtuínas. Responsáveis por controlar vários aspectos do funcionamento das células, aos primeiros sinais de esgotamento nutricional, as sirtuínas desencadeiam uma série de medidas de economia energética. As pesquisas em torno dessas enzimas (são sete, no total) começaram em 1991, pelas mãos do cientista americano Leonard Guarente, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Descobriu-se, poucos anos depois, que o resveratrol, composto encontrado na casca da uva rosada e nos vinhos tintos, é capaz de ativar as sirtuínas, mesmo quando não há privação alimentar. Em 2006, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Harvard, liderados por David Sinclair, superalimentaram ratos de laboratório com uma dieta rica em gordura, mas forneceram também aos animais doses de resveratrol. 

As cobaias ficaram obesas, mas não apresentaram aumento dos níveis sanguíneos de glicose e insulina nem alteração no tamanho do fígado. O resveratrol também estendeu o tempo de vida dos animais glutões a um patamar igual ao dos roedores alimentados segundo as normas da restrição calórica. As cobaias que receberam a mesma quantidade de comida, mas não resveratrol, foram as primeiras a morrer. Para ingerir a quantidade mínima necessária de resveratrol capaz de combater o envelhecimento, o ser humano teria de consumir 1 500 garrafas de vinho por dia. Por isso, é grande o esforço dos pesquisadores na busca de compostos naturais ou sintéticos que imitem o resveratrol. 

Dois deles estão em testes. Em estágio mais avançado, o SRT501 já foi administrado a pacientes diabéticos e reduziu o nível de glicose no sangue. A expectativa é que o medicamento chegue ao mercado nos próximos dez anos. Uma sugestão para o nome comercial dessa maravilha: Torlonitrol, de Christiane Torloni.

Thereza Venturoli

4 comentários:

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