20 de fev. de 2009

A crise e a esperança

Ninguém mais duvida. Estamos no limiar – ou já vivendo as primeiras manifestações – de uma crise em escala planetária e nos mais variados setores da vida. Nesses maremotos, a palavra de visionários costuma estabilizar o horizonte à frente – mas que ninguém se engane, pois somos responsáveis pelo rumo desse barco. Aos cenários desafiadores associados ao aquecimento global, às pandemias e aos conflitos étnico- religiosos, acrescenta-se agora a avalanche financeira, que, desencadeada no sistema habitacional americano, adquiriu dimensão universal e já se precipita sobre todas as economias do planeta. Afirma um velho ditado que, quando a água bate na cintura, está na hora de aprender a nadar. A água chegou à cintura. E tudo indica que continuará subindo. É mais do que tempo de consultar nossos manuais de natação. Para além dos diagnósticos dos especialistas, que evidentemente têm que ser considerados, representantes de diferentes tradições espirituais identificam na crise uma dimensão mais profunda. Estamos vivendo, dizem, uma decisiva transição em nosso processo evolutivo: a passagem para um patamar de consciência e realização incomparavelmente mais alto. Nessa perspectiva, todas as dificuldades que estamos enfrentando ou venhamos a enfrentar adquirem outra conotação. Por dolorosas que possam ser, oferecem a promessa de um fim feliz. Pois equivalem à luta do bebê no útero para emergir para a clara luz do dia. Visionários da mudança Em 15 de agosto de 1925, no dia de seu 53º aniversário, Sri Aurobindo Ghose, o excepcional filósofo, iogue e mestre espiritual indiano, declarou a seus discípulos que as condições para o grande salto evolutivo estavam completamente maduras. Mas que havia, no seio da humanidade, uma enorme resistência à mudança. “Quanto mais a Luz e o Poder se derramam sobre nós, maior a resistência. Vocês mesmos podem perceber que há algo pressionando para baixo. E que há uma tremenda resistência”, afirmou. Sabemos o que aconteceu depois. A resistência foi forte demais. O salto evolutivo não pôde ocorrer. E a humanidade se encaminhou para o maior conflito bélico da história, a Segunda Guerra Mundial, com dezenas de milhões de mortes e uma incalculável destruição de recursos materiais e intelectuais. Os representantes das tradições espirituais consideram que as condições são ainda mais favoráveis agora do que eram na década de 1920. Mas o sucesso dessa travessia coletiva depende do esforço individual. Quanto mais nos empenharmos no avanço da consciência, quanto mais pautarmos pela consciência nosso pensamento, palavra e ação, quanto mais pessoas conseguirmos convidar para esse grande mutirão, menor será o sofrimento causado pela crise e maior será a probabilidade de fazer dela o trampolim para um futuro brilhante. Cabalistas e sufis A idéia de que vivemos um período de radical transformação é compartilhada por diferentes tradições espirituais. Mas, evidentemente, cada tradição a expressa segundo seu próprio quadro de referências. Por isso, o que uma diz nem sempre é palatável ou nem sequer compreensível para a outra. E pode soar até bizarro para as pessoas pouco habituadas à cultura mística. O que importa, no caso, é ir além das superfícies dos discursos e procurar captar o espírito comum que os inspira. É sintomático que conhecimentos antes guardados a sete chaves sejam agora expostos abertamente em tom de urgência. Segundo cabalistas judeus e sufis muçulmanos, a ampla difusão desses conhecimentos constitui um ingrediente decisivo para o sucesso da travessia em que nos empenhamos. Tempos atrás, quem quisesse estudar cabala ou sufismo teria que transpor uma quantidade enorme de obstáculos. E não foram poucos os que desistiram após várias tentativas frustradas. Agora, os mesmos conteúdos e interpretações facilitadoras estão ao alcance de todos. Basta acessar a internet. No âmbito da cabala, o site The Work of Chariot, que adota uma perspectiva ecumênica, constrói surpreendentes pontes entre as tradições místicas judaica, hindu, cristã e muçulmana e se propõe a dialogar também com a ciência de vanguarda. Na outra ponta do espectro, o site Kabbala Online se atém a uma visão estritamente judaica, mas declara sua intenção de “trazer as revelações do misticismo judaico ao maior número de pessoas, tão rapidamente quanto possível”. Em 1990, em visita ao santuário de Kataragama, no Sri Lanka, sagrado para hinduístas, budistas e muçulmanos, o xeque Nazim Adil al-Haqqani, líder da ordem sufi Naqshbandi- Haqqani, declarou: “Sabemos que este mundo está sendo preparado para enormes acontecimentos. Em breve, haverá uma mudança geral, física, e depois espiritual. O tempo está completo. Todas as nações e toda a humanidade estão sendo preparadas para algo que se aproxima rapidamente”. O tempo do re-encontro Estudioso da milenar tradição es piritual andina, Zane Curfman foi ini ciado como Kurak Akulleq (sacerdote do quarto grau, o mais alto) pelo célebre místico peruano Juan Nuñez del Prado. E, em 2003, obteve de Juan a permissão para ensinar e iniciar os outros. A ideia de um tempo de mudança radical, configurada na profecia do “retorno do inca”, faz parte de seus ensinamentos. Tal profecia não se refere à volta de um personagem histórico, mas à aquisição de um novo patamar de consciência. Trata-se de um salto evolutivo, em tudo semelhante àquele anunciado por Aurobindo. Zane Curfman o explicou com exclusividade a Bons Fluidos. “Estamos agora em Taripaypacha, a era de re-encontrarmos a nós mesmos”, disse. “Neste tempo, afirma a profecia, se apresenta a oportunidade de um avanço. É uma oportunidade, não uma garantia, pois o que será alcançado pela humanidade depende do esforço individual de cada um. Se soubermos preservar as culturas, tradições e povos, e seus caminhos di ferentes, e não tentar sub meter este àquele, mas deixar que cada qual se afirme em seus próprios termos, então teremos a chance de realmente aprender uns com os outros. E isso levará a humanidade a uma Idade de Ouro. Não há data fixa para que isso aconteça. Pode ser em 2010, 2012 ou 2017. Mas o tempo é agora. E nós somos aqueles pelos quais estávamos esperando”. José Tadeu Arantes - Bons Fluidos

Um comentário:

Anônimo disse...

Ola, realmente você esta certissimo. Pena que a maioria dos humanos ainda acham que a culpa é do outro. São poucos os que tem consciência de que somos resposáveis por todos os nossos atos.

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