19 de fev. de 2010

Brincar é tudo de bom

Quando Julia Stoppelli Leão acorda, ela vai direto para a frente da televisão e ali fica por cerca de duas horas, envolvida com desenhos animados e outros programas infantis. Sabrina Albuquerque Groggia tem o mesmo hábito, que se repete entre milhões de crianças brasileiras. Segundo dados da pesquisa encomendada pela Unilever e realizada pela Ipsos Public Affair, em 2006 - na qual foram consultados 1.014 pais de crianças entre 6 e 12 anos, de todas as regiões do Brasil -, assistir à TV e vídeos em casa é a atividade mais praticada por 97% das crianças. Julia e Sabrina são exemplos disso. Julia está com 7 anos e Sabrina, com 6. Os hábitos mudaram, e o que era brincadeira comum no passado passou a fazer parte do dia a dia de um numero cada vez menor de crianças. Segundo a pesquisa, 44% das crianças pulam corda hoje; 38% brincam de bolinha de gude; 35%, de faz de conta; 38%, de roda. Depois de assistir à TV, as atividades mais praticadas entre os pequenos é cantar e ouvir música, e desenhar, ambas com 81%. A primeira atividade ao ar livre que aparece na pesquisa, em quarto lugar (79%), é andar em pequenos veículos infantis, como bicicleta, patins, skate, patinete e carrinho de rolimã. A pedagoga Maria Ângela Barbato, coordenadora do Núcleo de Pesquisas do Brincar, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), e uma das autoras do livro A Descoberta do Brincar (Editora Melhoramentos), teme que a não prática das brincadeiras infantis tradicionais seja prejudicial aos pequenos. "Criança que não brinca queima etapas de seu desenvolvimento, o que pode torná-la menos criativa. Ao contrário daquela que tem o costume de brincar: além de aumentar a criatividade, torna-se mais autônoma, cooperativa e menos consumista", acredita a pedagoga. A constatação dos efeitos negativos da falta de brincadeiras nos moldes antigos está fazendo com que algumas escolas incluam na grade escolar o ensino de jogos e a apresentação de brinquedos e objetos já velhos conhecidos de seus pais. A coordenadora pedagógica do Colégio Humboldt, Nilza Eller Barros Leal, comenta: "Recentemente, durante algumas aulas, as crianças aprenderam o passo a passo da construção de um carrinho de rolimã. O brinquedo virou atração total entre elas." O aprendizado é de suma importância, acredita ela, inclusive para melhorar o aproveitamento nas matérias convencionais, visto que esse tipo de prática ajuda os pequenos a ficarem mais centrados e menos agitados. A iniciativa de reservar um tempo para ensinar e praticar brincadeiras com os alunos dentro da escola é positiva, visto que 46% das crianças brincam nesse ambiente, segundo a pesquisa da Ipsos Public Affair. Como forma de resgatar as diversões do passado, Nilza comenta que são estimuladas atividades como pular corda, mãe da rua, bolinha de gude, batatinha frita, etc. "A receptividade é excelente. Não existe nenhum tipo de descontentamento por parte delas", acrescenta. A pedagoga Maria Ângela concorda, mas faz uma observação: "As crianças ainda têm interesse por tais brincadeiras, no entanto, o perdem mais cedo, devido ao apelo do consumismo e ao excesso de atividades extracurriculares. Além disso, os pequenos não têm com quem aprender e depois praticar." Vale destacar que, segundo a pesquisa, 98% dos pais acham que devem preparar as crianças para serem adultos bem sucedidos profissionalmente. Então, como minimizar os efeitos negativos da modernidade ? Permitindo que as crianças tenham mais tempo para brincar e lhes oferecendo atividades variadas. Cabe ao adulto apresentar um leque de opções lúdicas e prazerosas. Outra realidade Os pais temem a violência das ruas, porém, as brincadeiras tradicionais poderiam ser praticadas em casa, ou no playground dos prédios, o que não ocorre. A mãe de Julia, Fátima Stoppelli, reprova a atitude da filha, que só não vê televisão no período em que está na escola. Fátima está disposta a mudar o hábito da menina, embora afirme que isso é quase impossível. "Há toda uma programação na TV que ele gosta de seguir", comenta. O computador e os videogames são também diversões que os pequenos adoram. "Mas somente a partir dos 5 ou 6 anos é que as crianças podem começar a ter contato com esse tipo de diversão", diz Nilza. Já segundo a pedagoga Maria Ângela, o uso não deve ultrapassar uma hora por dia. A pequena Sabrina, de 6 anos, mora numa rua que se transforma em playground e espaço de lazer aos domingos. Isso proporciona a ela o gostinho de brincar na rua com outras crianças, correr, pular, exatamente como no passado. Está certo que sempre com a supervisão atenta de sua mãe, Débora Albuquerque. Bia Fugulin

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