O que precisa agora é de ficar à janela e deixar que o seu sentido rítmico pulse, pulse, audaciosa e livremente, até que uma coisa se funda com outra, até que os táxis dancem com os narcisos, até que um todo se forme a partir destes fragmentos separados.
Estou a dizer disparates, eu sei.
O que quero dizer é, reúna toda a sua coragem, apure a sua atenção, invoque todas as dádivas que a natureza lhe quis conceder. Depois, deixe que o seu sentido rítmico circule livremente entre homens e mulheres, automóveis, espargos (tudo o que andar na rua) até conseguir reuni-los num todo harmonioso.
Essa é, talvez, a sua tarefa – encontrar a relação entre as coisas que parecem incompatíveis, mas que, no entanto, têm uma afinidade misteriosa; absorver, sem medo, cada experiência que lhe apareça à frente e enriquecê-la completamente para que o seu poema seja um todo, não um fragmento; pensar a vida humana na poesia e oferecer-nos assim, de novo, a tragédia e a comédia..
Virginia Woolf
Virginia Woolf
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