23 de mar. de 2008

Napoleão


O fator determinante que permitiu a Napoleão Bonaparte chegar a general de divisão do Exército francês com apenas 24 anos de idade foi ter apoiado o movimento revolucionário contrariando a imensa maioria dos oficiais formados nas academias da França que abria apenas à elite aristocrata. Napoleão também era, mas de uma família italiana destroçada pelas dívidas e chegada aos domínios franceses com a anexação da Córsega um ano antes de seu nascimento.

Não tendo possibilidade de progredir no meio de oficiais de sangue bemmais azul e tradicional do que o dele, não titubeou em debandar pelo lado da Revolução, ganhando, assim, os favores da Assembléia Nacional. O resto da escalada se deu pela sua peculiar habilidade em se movimentar no sangrento e esquizofrênico ambiente da época. Abraçou a causa revolucionária a seu modo e, mesmo quando se proclamou imperador, manteve a fachada de antimonarquista que aglutinava emsua volta forças ideológicas populares e emergentes. O que não lhe impediu de casar-se com a duquesa Maria Luisa d’Áustria, da casa real de Adsburgo, sobrinha-neta da rainha guilhotinada Maria Antonieta, consorte de Luiz XVI.

Objetivo, pragmático, ele foi o próprio "príncipe" que Maquiavel idealizou e não conheceu. Capaz de tomar decisão moral e espiritualmente perigosa sem piscar, Napoleão colheu extraordinárias vitórias conjugando dotes de comandante de exército, de letrado- filósofo e de político - eclético, observador, frio, carismático e determinado como Xenofonte, Alexandre o Grande ou como Júlio César, sabia dosar commaestria suas aspirações pessoais com os desígnios "sobrenaturais" que pousavamem sua alma inquieta. Rigor espartano, carinho paterno, inabalável na capacidade de aceitar a responsabilidade, capturava a fidelidade dos soldados transformando ovelhas em leões, desvalidos em heróis.

Napoleão se sentia em casa em pleno inferno, sem se perturbar com o sofrimento e a morte. Misto de loucura e de cálculo, estóico e messiânico, Napoleão assistiu ao suicídio de um oficial subordinado, inconformado com sua decisão "desumana", sem mudá-la ummilímetro. A ele se referiu umoficial piemontês derrotado, "a impressão que se tinha desse jovem comandante era de dolorosa admiração; o intelecto ficava deslumbrado com a superioridade de seu talento".

O mundo se ajoelhou,mas não foi vencido por ele. Um atento estudioso, Karl Von Clausewitz, procurando as razões dos triunfos napoleônicos, observou: "Força moral, mais que números, é o que decide a vitória. O moral está para o físico como três para um". Nenhuma saudade de Napoleão, mas a moral que ele tinha para arrastar homens ao sacrifício, hoje não se encontra em lugar nenhum!
Vittorio Medioli

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