18 de jan. de 2009

Mutações - Ensaios sobre as novas configurações do mundo

Ensaios sobre as novas configurações do mundo
Organização: Adauto Novaes Os textos publicados neste livro foram produzidos originalmente para o ciclo de conferências concebido pelo Centro de Estudos Artepensamento em 2007. São instigantes, nos apaixonam na mesma proporção que nos causam espanto, medo e perplexidade diante das transformações aceleradas que nos apontam. Transformações que, nos lembra João Camilo Penna, só encontrávamos na ficção cientifica que apela para especulações de cientistas reais como fonte de narrativa (p. 187). Houve sempre na história do homem lugares desconhecidos, fantásticos por descobrir onde se fantasiava outro tipo de existência. Mas ultimamente nossa relação com o tempo, espaço e com a natureza foi profundamente alterada. Com a ocupação total da superfície da terra, com a dilatação do espaço e compressão do tempo, onde qualquer lugar é perto, nossa utopia – o não-lugar – passa a se localizar em outra topologia: no tempo futuro (p.196) E nosso espaço privilegiado passa a ser o corpo do homem. O livro nos fala de mutações, do que se trata afinal? Mutações como nos esclarece o organizador Adauto Novaes logo no início, são passagens de um estado de coisas a outro e que nos deixam à deriva, quando as trilhas são pouco visíveis ou confiáveis e em particular se elas foram abertas, como acontece hoje, não propriamente pelo trabalho do pensamento, mas pela técnica. Os textos tentam analisar essas novas configurações, apontar os itinerários percorridos e caminhos futuros. As mutações tem ocorrido aceleradamente e por vias só pressentidas pela ficção. A nanotecnologia, como nos conta Jean-Pierre Dupuy, trabalha em programa de artificialização da vida e do humano (p.36). E o remédio nanotecnológico para o escândalo da finitude é radical: por fim através das novas técnicas à finitude. O efeito disso, como o autor nos alertar é terrível. Até aqui, a humanidade tinha encontrado um meio ao mesmo tempo simples e sutil de lidar com a própria finitude; dando-lhe um sentido. O fato de uma vida ter um início e fim é precisamente o que faz dela uma história. Mas como se pode dar sentido ao que se busca extirpar? A intensa tecnologização da vida humana nos mostra que há uma aceleração econômica do capitalismo global que engatou nesse processo acentuando o comprometimento do humano (p. 47). Laymert Garcia dos Santos em seu texto traça um percurso exuberante e nos mostra que o entendimento de que o humano está ameaçado não é novo e que o atual conhecimento científico parece nutrir um desejo secreto de romper com o passado animal. Luiz Alberto Oliveira adverte: mutação implica desvio, uma mudança de natureza do processo, um súbito trânsito de fases a partir da qual uma nova base viria a se consolidar. A mutação se vincula a uma fundação em andamento, a um dinamismo que o fundamento em crise teve outrora, mas não tem mais (p. 65). Ora, sempre fomos criaturas irremediavelmente lineares; a lei que vigora para o todo é a mesma lei que vigora para cada parte (p.75). Um sistema linear é um conjunto de grandezas para o qual vigora a regra de que o todo não é senão a soma das partes. Mas existe outro tipo de sistema onde claramente não há homogeneidade entre todo e parte. Trata-se de um sistema que, ao se realizar, impõe-se ele mesmo uma modificação: a atividade do todo altera os estados das partes, o que, por sua vez, implica a alteração dos atributos do todo, num vínculo heterogêneo. Nesse sistema, o todo será sempre mais, ou menos, do que a soma das partes: um sistema não linear. Digamos que é assim que nos encontramos agora. O exemplo mais famoso da propriedade não-linear é o efeito borboleta: o bater das asas de uma borboleta na foz do Amazonas muda a direção de um tufão no Oceano Indico. Como assim? Ao bater as asas naquela particular direção, naquele particular momento, uma dada borboleta altera, mesmo que apenas num grau infinitesimal, a taxa de evaporação de determinada flor, num dado canteiro. Quando integramos as taxas de evaporação para as flores desse canteiro, o total será o resultado de todas as correspondentes modificações infinitesimais. Passamos do canteiro ao jardim, do jardim para o vale, a seguir para a serra, da serra ao distrito, e assim por diante para o país, o continente, o hemisfério e enfim para o planeta. Devido a esse mecanismo de alterações reiteradas, a minúscula variação causada pela borboleta se acrescenta a incontáveis outras ações microscópicas que, acumulando-se, acabaram amplificadas até produzir um efeito de larga escala – o direcionamento do tufão. Não há, portanto como inferir nessa pluralidade de caminhos que se apresentam ao homem um particular percurso específico. Uma imensa gama de futuros pode decorrer de infinitas variações de estado das coisas (p.76). Pequenas causas podem produzir grandes efeitos e nos identificamos agora como seres não-lineares. E ainda, todas as transformações possíveis e se fossem mesmo possíveis, deixariam escapar algo inapreensível, que pode se chamar amor, impulsão ou outra coisa e que está muito além de uma “lista de características” exaustivamente investidas. Quais são as possibilidades infinitesimais ao agir sobre o texto bioquímico dos genomas? Ao atuar no nível constitutivo dos organismos passamos a suplementar a seleção natural na função de desenhar as formas das espécies vivas (p.79). Anteriormente sempre nos defrontamos com configurações imaginárias a respeito do que significa a natureza humana e com suas possibilidades. Mas a extraordinária revolução científica não tem precedentes na história da humanidade, estamos falando mais do que em mutação, em transfiguração do humano. Algo se torna premente, não é possível esquecer da dimensão ética como liame. O panorama histórico da modernidade tem algo de padronização massiva, do aviltamento do humano. Mas Oswaldo Giacoia Júnior nos acalanta com sua idéia de que é na constante impermanência do que sempre se retrai, do instável e efêmero que podemos buscar aquilo que nos eleva (p.168).
Com todo o desenvolvimento da ciência, o certo é que ainda não sabemos o que pode um corpo. E talvez jamais venhamos a sabê-lo, pois o corpo ultrapassa o orgulho de nossa razão. Ele, com suas virtualidades, é um sintoma da trajetória humana no mundo, não um fim em si mesmo, antes um ponto de passagem (p.181). E para além, o desconhecido e novas interrogações.
Helena Maria Galvão Albino - Psicologa Clínica

Um comentário:

Anônimo disse...

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