30 de mai. de 2009

Memória da pele

Posso ler o amor que nutri por todas minhas mulheres. busco tais emoções nas pessoas que encontro hoje, sem muito sucesso “Quem pagará o enterro e as flores se um dia eu morrer de amores?” Vinícius de Morais Tento, de todas as maneiras eu tento. Pensava que o mais importante era ser amado. Sofri, como qualquer jovem, com os mistérios do amor. Doía de latejar, à mínima lembrança. Parca era minha capacidade de amar. Não tive infância ou adolescência para aprender. Desde cedo tive que dar meus pulos para sobreviver. Misturava a necessidade de amar com posse, perdido do real. Ter era amar. Não havia respostas que fossem razoáveis. Estava no extremo oposto do que realmente importava. Claro, as distâncias se ampliaram. Quanto mais sabemos, mais entendemos o quão distantes estamos de saber realmente alguma coisa. É quando nos perdemos dessa dimensão que nos permitimos a prepotência e a arrogância. Casei algumas vezes e tenho dois filhos. Não entendo bem o que sinto por eles. Não é como imaginava. Estão crescendo, mas eu ainda os vejo tão frágeis, como o menino que não fui. Parecem leves e tranquilos. Respiro fundo. Pensar em viver aquilo tudo novamente na pessoa de cada um deles me faz suar. Estou ficando velho, careço de um mínimo de paz. Consigo vislumbrá-los como as pessoas independentes que de fato são. Sei que, se eu mostrasse os caminhos, provavelmente eles se perderiam. Nunca soube, com certeza, se tive mesmo um caminho. Além disso, a era do conhecimento consumado acabou: tudo é relativo e transitório. O psicanalista alemão Erich Fromm propõe duas formas de amar: ou necessitamos da pessoa querida, ou precisamos dela porque a amamos. A segunda opção parece a mais interessante. Bom demais ser alvo de tamanha largueza de sentimentos. Mas não creio que conseguimos sustentar essa excelência emocional por muito tempo. Variamos entre opções, criando alternativas humanas. Analisar vivências emocionais sempre surpreende. Posso ler o sentimento profundo que nutri por todas as minhas companheiras. Tornaram-se importantes porque eu as amava. Foi glorioso enquanto consegui sustentar este meu frágil coração. O homem é um ser em permanente movimento de busca. Sacrificamos, cortamos na carne. Não deixei de amá-las. Tudo marcou indelevelmente. Lembro dos olhos pousados em mim com tamanha devoção. Busco tais emoções nas pessoas que encontro, mas sem muito sucesso. Muito humano Tento, tento de verdade. Saí da prisão em busca da construção de sentimentos. Encontrar a quem amar. Certa vez, li que só há três formas de viver um amor. A primeira seria amando. A segunda, sofrendo por um amor perdido. E a última, procurando um novo amor. Não sei até que ponto isso pode ser verdadeiro, mas me parece muito humano. Sim, já até consegui ser amado. É muito bom, mas insuficiente. Morro de medo de que não haja mais amor para mim. Envelheço rapidamente, sou mais um velhinho na multidão. Tudo bem, a idade é inevitável. Mas, por conta dela, devo viver de esperanças? Quer saber; é exatamente agora que estou mais capaz de sair de mim. Estou menos egoísta e há séculos descobri que não sou o centro do mundo. Entendo que estou amando quando me vejo pensando no lucro do outro na relação. Torno-me a cada momento mais terno e carinhoso. Nesses cinco anos aqui fora, conquistei a paciência, compreendo mais as pessoas e tornei-me capaz de conviver. O problema é que não consigo mais viver sem calor. A aurora une-se ao sol poente e, enquanto as horas ainda cabem nos dias, o instante escorrega esguio para dentro das paredes. A paz me faz estremecer e, sempre que tudo quer ficar branco, visto preto e causo. Às vezes parece que as forças do universo estão centradas naqueles que ainda não tiveram chances, descartando o que já não deu certo. Continuo tentando. Em que parte da minha caminhada você estará? Como a memória nos protege do nada, a vontade de te encontrar me protege da esperança do encontro. Luiz Alberto Mendes

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