Algumas vezes assistimos comovidos familiares de jovens falecidos darem entrevistas com os olhos cheios de lágrimas e dizendo que a saudade, a tristeza é enorme, mas há um pequeno consolo por saber que os órgãos do querido parente representarão vida nova para outras pessoas.
Na maioria das vezes, isso não acontece. A publicidade do Ministério da Saúde causa sensibilização e muitos pensam, até criam vontade de poder ajudar. Porém, a doação de órgãos vive uma realidade oposta. É um assunto que não é totalmente elucidado para a população.
Existem alguns mitos que necessitam urgentemente serem quebrados. Não, médicos não agilizam o processo de transplante quando o paciente encontra-se em estado grave. Não, no Brasil não há tráfico de órgãos organizado pelas autoridades competentes.
O Brasil possui um sistema completamente sério de captação e distribuição das doações. Possui uma postura ética que obedece todos os critérios da Organização Mundial de Saúde e com o apoio da população tem tudo para se tornar um exemplo nessa questão.
Então, qual a dificuldade e o empecilho das doações? Muitos. Para haver doação deve-se respeitar muitas exigências. A pessoa necessita não ter comorbidades em vida, deve-se enquadra em idades compatíveis. Mas, o grande inimigo é o fato de que a doação obrigatoriamente deve ocorrer com o coração ainda batendo.
Fomos criados com a visão errônea que a vida está no coração. Talvez esteja mesma, mas se estiver, está no coração metafórico, no coração sentimental, do relacionamento humano e não na câmara cheia de músculo que contrai e relaxa incessantemente. Quando ocorre parada cardíaca, automaticamente todas as células do corpo perdem a nutrição e começam a morrer.
Os rins rapidamente entram em isquemia e assim como todos os alvos do transplante não são úteis e não podem ser utilizados. A vida, extrapolando a visão religiosa, encontra-se no sistema nervoso. Para ser doador deve-se entrar em morte encefálica, mas com o resto do corpo funcionando.
Entretanto, algumas pessoas se perguntam: o que isso significa? Significa que a pessoa deve estar morta da mesma forma que todas as outras que morrem e ao mesmo tempo com certos órgãos funcionando. Inicialmente é complicado entender tais definições, mas não podemos deixar de sermos enfáticos: a morte encefálica é irreversível, a morte física já ocorreu, não há possibilidade nenhuma do paciente acordar, os órgãos continuam funcionando momentaneamente devido a aparelhos, não devido há qualquer conceituação de vida.
O corpo sozinho é incapaz de manter mais nada. Esse diagnóstico não é passível de erro algum, pois é realizado sempre por uma junta médica que segue uma sistematização mundial. Quando a família é chamada ao hospital a questão é que a morte já ocorreu e há a possibilidade de poder ajudar outras pessoas. Apenas isso. Morte encefálica é igual a morte. A maioria dos casos que permitem doação são causas acidentais. Os familiares ficam completamente abalados, em choque, algumas vezes não aceitam o ocorrido.
É um momento extremamente sensível e é nessa miscelânea de sentimentos que a família deve decidir se autoriza o procedimento. O transplante só irá ocorrer se houver o consentimento pleno da família. Penso que a questão religiosa, independente do credo, deveria ser mais atuante e incentivar a autorização de tal prática. Jesus nós ensinou que não devemos guardar o que não precisamos.
Todos os conceitos cristãos definem a alma com forma não material. Portanto, aquilo que fica da nossa existência não precisará de pulmão, fígado, coração. A melhor campanha que pode ser feita por aqueles que aderem essa causa é orientar a sua vontade e esclarecer tais informações aos familiares e pessoas do convívio próximo.
Cada pessoa que toma conhecimento do que realmente significa, torna-se um outdoor de divulgação da esperança daqueles que lutam nas filas de espera em todo país. Não se deseja o mal de ninguém, não se espera que ninguém sofra algum acidente fatal, mas se sofrer, desejo de coração, que essa pessoa não perca a oportunidade de ajudar o próximo. Que fique claro aos meus familiares, eu sou completamente a favor dessa causa.
Thiago Franco Albino - Médico
Thiago, Muito obrigado por disponibilizar um tempo entre seus plantões e nos brindar com este texto de um tema "tabu" mas que merece muito debate e divulgação.
Os rins rapidamente entram em isquemia e assim como todos os alvos do transplante não são úteis e não podem ser utilizados. A vida, extrapolando a visão religiosa, encontra-se no sistema nervoso. Para ser doador deve-se entrar em morte encefálica, mas com o resto do corpo funcionando.
Entretanto, algumas pessoas se perguntam: o que isso significa? Significa que a pessoa deve estar morta da mesma forma que todas as outras que morrem e ao mesmo tempo com certos órgãos funcionando. Inicialmente é complicado entender tais definições, mas não podemos deixar de sermos enfáticos: a morte encefálica é irreversível, a morte física já ocorreu, não há possibilidade nenhuma do paciente acordar, os órgãos continuam funcionando momentaneamente devido a aparelhos, não devido há qualquer conceituação de vida.
O corpo sozinho é incapaz de manter mais nada. Esse diagnóstico não é passível de erro algum, pois é realizado sempre por uma junta médica que segue uma sistematização mundial. Quando a família é chamada ao hospital a questão é que a morte já ocorreu e há a possibilidade de poder ajudar outras pessoas. Apenas isso. Morte encefálica é igual a morte. A maioria dos casos que permitem doação são causas acidentais. Os familiares ficam completamente abalados, em choque, algumas vezes não aceitam o ocorrido.
É um momento extremamente sensível e é nessa miscelânea de sentimentos que a família deve decidir se autoriza o procedimento. O transplante só irá ocorrer se houver o consentimento pleno da família. Penso que a questão religiosa, independente do credo, deveria ser mais atuante e incentivar a autorização de tal prática. Jesus nós ensinou que não devemos guardar o que não precisamos.
Todos os conceitos cristãos definem a alma com forma não material. Portanto, aquilo que fica da nossa existência não precisará de pulmão, fígado, coração. A melhor campanha que pode ser feita por aqueles que aderem essa causa é orientar a sua vontade e esclarecer tais informações aos familiares e pessoas do convívio próximo.
Cada pessoa que toma conhecimento do que realmente significa, torna-se um outdoor de divulgação da esperança daqueles que lutam nas filas de espera em todo país. Não se deseja o mal de ninguém, não se espera que ninguém sofra algum acidente fatal, mas se sofrer, desejo de coração, que essa pessoa não perca a oportunidade de ajudar o próximo. Que fique claro aos meus familiares, eu sou completamente a favor dessa causa.
Thiago Franco Albino - Médico
Thiago, Muito obrigado por disponibilizar um tempo entre seus plantões e nos brindar com este texto de um tema "tabu" mas que merece muito debate e divulgação.
Sugestão
Os Professores que nos visitam diariamente deveriam levar este tema para debate dentro das salas de aula! Escrevam um artigo, um pequeno texto com os comentários e a receptividade do tema. O assunto é muito importante e literalmente vital para todos.
2 comentários:
Parabéns pelo texto vou divulgá-lo.
Boa tarde! Gostei muito do texto. Sou transplantada de fígado ha 24 anos e procuro sempre ajudar às famílias de pessoas que necessitam de um transplante. Estou em fase de elaboracao de tese de conclusao de curso e nada mais justo do que abordar este tema. E foi assim, pesquisando, que encontrei seu blog.
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