1 de mar. de 2013

Diferenças entre a Psicanálise e o trabalho de terapia sexual


Texto inspirado no filme,  As sessões, de Ben Lewin

O filme conta a história de Mark O’Brien, escritor e poeta que, ainda criança, contraiu poliomielite. Devido à doença perdeu os movimentos do corpo, somente mexe a cabeça, vive preso a um pulmão de ferro. Aos 38 anos, depois de muita angústia e medo assume perder a virgindade, pois deseja amar e ser correpondido. Católico praticante busca a absolvição de um padre, amigo e confessor, que o orienta a pedir ajuda especializada. Ele é atendido por uma psicóloga que sugere o trabalho de uma terapeuta sexual. A terapeuta enfrenta o enorme desafio de iniciar sexualmente um homem imóvel, que tem as sensações preservadas, mas que não as controla. Os encontros despertam emoções tremendas na dupla e na platéia. A mistura de bom humor, sinceridade, ternura e fragilidade do personagem é arrebatadora – impossível não amá-lo.

Algumas palavras:  
A Psicanálise despertou o mundo para a compreensão e estudo da sexualidade humana, levantou o tabu milenar que encobria as manifestações da sexualidade infantil e adulta. Freud nos mostrou haver uma correlação entre as neuroses e a repressão da sexualidade. Depois, o mundo mudou, veio a revolução sexual, a pílula e até as aulas de orientação sexual nas escolas.

O método psicanalítico trabalha com o nível simbólico do psiquismo, por meio de toques emocionais dedilha a alma do paciente – seu campo reside no universo das representações. O psicanalista “empresta” seu mundo interior para o paciente. A matéria prima do nosso trabalho é constituída por emoções, experiências, vivências e palavras. Extraímos de nós o material que é estimulado pela demanda do paciente, o elaboramos e o colocamos à disposição dos analisandos – promove-se uma vivência emocional bastante íntima e peculiar – assim são os encontros analíticos, difíceis de descrever.

Os trabalhos terapêuticos que se dirigem diretamente ao corpo são herdeiros das ideias dos primeiros psicanalistas, que seguiram linhas de investigação diferentes das de Freud. O trabalho de terapia sexual não utiliza a metodologia psicanalítica, trabalha em nível mais concreto, cognitivo e, muitas vezes, até de treinamento. É a experiência sexual que está em jogo. O terapeuta sexual empresta seu corpo, sua liberdade e conhecimento dos estranhos caminhos da sexualidade, o estimulo é direto.

As questões éticas implicadas nesse tipo de trabalho demandam Filosofia. Até que ponto podemos e devemos estar dessa forma com os pacientes é uma pergunta importante. Não tenho resposta. A Psicanalise não se pretende dona da verdade nem pretende ser uma ideologia da moda. 

Nossos pacientes são livres, essa é uma posição ética fundamental – não somos os responsáveis por eles, por suas vidas, descobertas e decisões. O analista acompanha o paciente/analisando, pode despertar emoções, lembranças e vivências – o trabalho analítico expõe o sofrimento – mas o analista não conduz o paciente a fazer o que ele analista acredita ser o correto. Essa é a área de responsabilidade do analisando, que pode fazer o que bem entender. 

Os psicanalistas fazem uma longa formação para se prepararem para o atendimento dos pacientes. Essa formação pretende dar a condição de renunciar ao poder que, eventualmente, o paciente venha atribuir ao analista, para que ele adquira poder e autonomia sobre sua própria vida. Lacan dizia que o analista ocupava um lugar de suposto saber, é isso, suposto, apenas suposto.
Outra pergunta que o filme coloca é se o paciente não alcançaria essa possibilidade sexual com uma parceira de vida. 

Os homens, em geral, sentem muito medo de falhar e vergonha da inexperiência, mesmo os que não se encontram imobilizados, paraplégicos ou tetraplégicos. A fragilidade e o medo podem levar à escolha de um especialista, o terapeuta sexual  ou de um profissional do sexo (é o que mais ocorre em nossa cultura) que auxilie na diminuição do temor até que se sintam confiantes em controlar o processo e aprender (novos) rumos para a própria sexualidade.

Ao assistir o filme somos revisitados por angústias e preocupações referentes à sexualidade. O filme nos obriga a lembrar do próprio tormento em relação ao sexo. A solidão, o desejo de amar e ser amado e a dor do personagem principal se tornam universais.
Muitos pacientes com queixas na área da sexualidade se beneficiam da psicanálise, se libertam, pois a prisão se dá a nível psíquico e está relacionada a dificuldade em viver as próprias emoções. A sexualidade é uma emoção forte e prenhe de preconceito. O corpo e a sexualidade formam um campo a ser melhor investigado. O conhecimento que temos dessa área, por mais que tenha avançado, engatinha.
Luciana Saddi

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse filme é bárbaro, adorei.

Psicanalistas mente sana disse...

Gostei muito dessa postagem. Sei que você também segue o meu blog, e, por isso vim até aqui.
Está de parabéns por esse cantinho.

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