25 de ago. de 2008

Saindo da concha

Todos nós, em algumas fases da vida, nos sentimos tão feridos e tão desacreditados de certos sentimentos que passamos um longo tempo assim, como se estivéssemos fechados numa espécie de concha. Depois de repetidas tentativas e reincidentes enganos, já não mais apostamos em novas oportunidades. Simplesmente escolhemos nos fechar, nos defender e até nos esconder do que quer que seja que a vida possa tentar nos oferecer... Tenho de admitir que, de vez em quando, não tem outro jeito! O melhor mesmo é 'fechar pra balanço'. Reavaliar os fatos, contabilizar as perdas, reconhecer os ganhos, ainda que em forma de dolorosos aprendizados. Felizmente os ganhos sempre existem, por mais difícil que seja enxergá-los no momento em que estamos submersos numa sensação de que - aconteça o que acontecer - já não vale mais a pena... Porém, o tempo é mestre! Sempre me surpreendo e me encanto com esta capacidade que temos de nos regenerar, de nos reinventar dentro da concha, seja com lágrimas e desistências, seja com planejamentos inconscientes, tentando convencer a nós mesmos de que agora em nada mais investiremos nosso coração, mas ainda assim, investindo...(Infelizmente, tem muita gente que ainda não se deu conta desta sua capacidade. Insistem em meramente se trancar em suas conchas, inertes, acomodados, vestindo a carapuça de 'coitadas' e deixando a vida passar...). Mas como a desistência de viver e muito mais a de amar não são, definitivamente, genuínas no ser humano, chega o dia em que... depois de longo tempo introspectivos, num processo de auto-superação... finalmente nosso desejo de explodir tem força o bastante para descolar as beiradas da concha e revelar nossa pérola singular, bela, valiosa... Neste dia, olhamos para o Sol como se há muito ele não estivesse ali. Sentimos nosso coração bater como se tivesse passado longo tempo desativado. Perdemos a respiração por alguns segundos, para depois retomá-la num suspiro de quem acaba de nascer. Revivescemos, nos apaixonamos... feito adolescente que desperta para um primeiro amor. Porque amor é sempre primeiro. Deixo aqui o depoimento do homem (!) que me inspirou para este artigo, descrevendo-me seus sentimentos e classificando este seu momento como 'saindo da concha'..."... Caramba! Vale a pena. É bom estar assim, é bom frio na barriga, é bom ver arco-íris, é bom pedalar mais rápido, é bom estar nas nuvens... Se ela vai se assustar com tanta confissão? Sabe, posso desaparecer no próximo minuto, como as pessoas que estavam indo pro trabalho de manhã no metrô de Londres, ou quando quase morri nas montanhas do Nepal ou nas águas contaminadas da Índia... Então, que fique assustada; que saiba o impacto queestá causando! O que interessa agora (egoisticamente pensando) é que nãoexiste nada que me impeça, nenhuma situação embaraçosa, nenhum caso mal resolvido, nadinha mesmo... que me impeça de sentir tudo o que está acontecendo, mesmo que termine, ou melhor, "não" termine em pizza..." É isso... a coragem de se atirar ao seu próprio coração, 'egoisticamente pensando', e simplesmente viver intensamente seus sentimentos... Para terminar descobrindo, enfim, que amar e ser amado são contingências de escolhas pessoais, suas, sempre suas. Então, ainda que não seja hoje, ainda que não seja agora, mas que você se permita - quando se sentir pronto - sair da concha e ver arco-íris.
Rosana Braga
Picture by Stephanie Marrott
Dedicado à amiga Denise Aguilar, fã incondicional de Amarula. Mãe da Jéssica, bonita, estudiosa, responsável e minha futura nora.

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