31 de mar. de 2008

A verdade e nosso íntimo


Na realidade, não conhecemos nada, pois a verdade está no íntimo.
Demócrito
Picture by Simon Marmion

Morre lentamente...


Morre lentamente
Quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente
Quem se transforma escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto, quem não muda as marcas no supermercado, não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com que não conhece.

Morre lentamente
Quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pingos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho; quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho; quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente
Quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples ato de respirar...
Estejamos vivo, então!
Pablo Neruda
Picture by Chester Elmore

Vencendo seu pior inimigo na vida profissional


Quero iniciar este artigo, que escrevo especialmente para você, com apergunta:

Qual é o seu pior inimigo na vida profissional?

Pausa para você refletir, antes de continuar a leitura .

Logo, logo, você vai saber sobre seu principal inimigo, mas antes deixe-me dizer alguma coisa sobre "inteligência".

Nunca essa palavra teve tantas adjetivações como hoje em dia. Fala-se em "inteligência empresarial", "inteligência espiritual", "inteligência emocional" e daí para diante.
Mas vou deter-me numa faceta da inteligência, há muito tempo conhecida e analisada, principalmente por sociólogos, a "inteligência social", ou seja, a capacidade de a pessoa conviver bem com os outros, compreendendo que cada um tem suas razões de ser como é e, repetindo o lugar-comum: ninguém tem o direito de julgar ninguém.

Se você pensar um pouco sobre o assunto, vai verificar como é importante a inteligência social para as empresas, as organizações, pois ninguém administra senão gente e aí está o grande desafio na arte de obter resultados. Ora, para conviver bem com os outros, quer em pequenas ou grandes equipes, numa atitude sincera de relacionamento, sem beijinhos e abraços hipócritas, é preciso ter harmonia consigo mesmo. Os beijinhos e abraços sinceros fazem bem a quem os dá e a quem os recebe. Para conhecer suas próprias reações, a pessoa precisa desenvolver a difícil arte de distanciar-se de si mesmo e ver como reage às outras pessoas, como enfrentar as adversidades.

Neste ponto, podemos fazer um ligeiro comentário sobre ser reativo ou proativo. O reativo age emocionalmente, gastando energias em vão e o proativo procura mudar a forma de ver as situações, mudando-lhes o significado; enfim, transformando desvantagens em vantagens. Os resultados são conseguidos com pessoas. Sempre são pessoas que levam você a subir em sua carreira: os que ajudaram a conseguir os resultados que você apresenta e aqueles que reconhecem seus méritos e lhe dão oportunidades.

Em geral, o maior inimigo da pessoa é sua reação emocional, sem controle, sem análise pelo intelecto, sem os freios da razão. Partindo do autoconhecimento é possível sentir empatia, isto é, a identificação e compreensão dos motivos, situações e sentimentos dos outros. Porque o outro age assim? A cada dia, você pode fazer uma análise de como está vencendo seu maior inimigo, que acontecimentos surgiram no dia anterior e como você reagiu a eles. Você pode até fazer isso por escrito. Dessa forma, você vai desenvolvendo a autodisciplina a fim de controlar a si mesmo.

Vale a pena,pois tudo o que se consegue na vida é por intermédio de pessoas e se você não sabe lidar com elas, não pode liderar, não pode chefiar e sua carreira vai para o brejo. Essa análise vai ajudá-lo a mudar de reativo em proativo, o que será mais uma grande conquista em sua vida profissional.
Luiz Machado
Picture by Leon Bonnat

30 de mar. de 2008

Interdependência


O maior desafio de nossa época é mudar nossa visão de mundo.
É perceber que a interdependência é uma lei: a lei da sobrevivência do planeta, do meio ambiente, da sociedade, das organizações, até mesmo dos nossos pequenos grupos familiares.
No lugar da independência devemos reconhecer a interdependência e fazer tudo para que a parte de cada um seja cumprida de forma que o todo funcione em benefício de todos.
Todos somos um não é um sonho.
É uma realidade que devemos reconhecer, estimular e proteger.
Somos um indivíduo, um grupo, uma comunidade, um planeta.
Estamos todos juntos com a consciência de ser um só.
Hewlett Packard

Cataratas Vitória - "A Piscina do Diabo"


No Zimbabwe, na África Austral (parte sul do continente), encontram-se as magníficas Cataratas Vitória, uma queda de 128 metros de altura.
O lugar é conhecido, e não sem razão, pelo sugestivo nome de "A Piscina do Diabo" por ser possível se banhar, sem um grande risco aparente, nas proximidades da queda, graças a uma estiagem que acontece entre os meses de setembro a dezembro.
Cada vez mais procurada por turistas interessados em lugares exóticos e emocionantes, as Cataratas Vitória têm se tornado uma experiência única em se tratando de turismo radical.

Afinidade


Afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois.

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos.

E o mais independente também. Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades.

Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido. Ter afinidade é muito raro.

Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras, é receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento. Não é sentir nem sentir contra. Nem sentir para. Nem sentir por. Nem sentir pelo. Afinidade é sentir com.
Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.

É mais calar do que falar, ou, quando falar, jamais explicar: apenas afirmar.
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas quanto das impossibilidades vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram, foram apenas oportunidades dadas pela vida.

Artur da Távola

Picture by Steven Meyers

A culpa


A culpa é um dos problemas psicológicos mais difíceis de tratar, pois éinternalizada em nossa cultura como uma virtude. Algumas pessoas estãosempre em débito com os outros e consigo mesmas.
Tornam-se tristes peloserros cometidos e, muitas vezes, entram em depressão por algo que fizeram oudeixaram de fazer. É assim que se perde a inteireza da vida.

É triste ver que a maioria das pessoas não está na vida para desabrochar oseu potencial, mas para cumprir uma imagem idealizada de como deveriam ser.Não podem transgredir as regras impostas pela sociedade e, quando issoacontece, são atormentadas pela culpa.

O problema é que grande parte daspessoas ignora que o erro faz parte da vida, já que somos incompletos.Sempre erramos e sempre erraremos. Muitos dos avanços do mundo e da evoluçãoda humanidade se deram a partir do erro. Algumas vezes é preciso tropeçarpara aprender o caminho certo, pois a nossa transformação vem da consciênciado erro.

O erro é nosso mestre, é o que nos faz crescer. Se aprendermos comele, nos abrimos para novas oportunidades na vida. Já a culpa paralisa,amordaça. Se julgarmos o tempo todo, a vida é desprezada em sua totalidade. Não há espaço para crescimento.Sempre que saímos de um padrão estabelecido por nossos pais, nossa cultura,nos sentimos culpados. A culpa é uma dependência infantil. É a voz de alguémdentro de nós que nos acusa quando saímos de algum padrão. Embora nãosaibamos, esta voz foi internalizada quando criança.

É a voz do pai, da mãe, da professora, do padre etc. E quem sente muita culpa gosta de culpar asoutras pessoas. E as relações se deterioram pela tentativa de produzir culpano outro. É por isso que as pessoas se justificam tanto.Abrir mão da culpa é abrir mão do controle que queremos exercer sobre ooutro. É abrir espaço para o amor, pois a culpa é a inimiga dosrelacionamentos. É a forma de ficar preso ao passado. É viver de costas paraa vida. As pessoas deprimidas são cheias de culpa. Estão na vida para nãoerrar e não para viver.
Antônio Roberto
Picture by Wassily Kandinsky

29 de mar. de 2008

Eu posso


Eu posso, portanto, eu sou
Simone Weil
Picture by Piero della Francesca

A verdade e quem quer ouví-la


É preciso dizer a verdade apenas a quem está disposto a ouvi-la.
Sêneca
Picture by Piero della Francesca

Mikao Usui


Mikao Usui voltou do Monte Kurama e passou a dedicar-se aos mendigos das ruas de Kioto.
Ele curava suas doenças.

Uma vez recuperados, os mendigos eram estimulados a buscar trabalho e assim deixavam as ruas.

Passado algum tempo, Mikao começou a encontrar caras conhecidas em sua peregrinação pelas áreas pobres da cidade.

Eram os mendigos que ele havia tratado, que estavam de volta às ruas.

Curioso, Mikao quis saber por que haviam voltado à vida anterior.

E um dos homens lhe respondeu que preferiam viver como mendigos. Era mais fácil...
Ele lhes curara as doenças, mas estes mendigos não estavam preparados para sentir o prazer de uma nova vida.
Não estavam preparados para receber novas dádivas.
Abalado, Mikao se questionava onde teria errado.
Foi então que Mikao lembrou o início do Caminho dos Abades...
“A cura mais importante é a do espírito.”
Faltara preparar o espírito daqueles homens para uma nova forma de vida.
Faltara ensinar-lhes como obtê-la.

Foi então que Mikao Usui criou os cinco princípios do Reiki, as cinco normas de vida:

Só por hoje, não sinta raiva e não fique zangado.
Só por hoje, abandone as preocupações.
Só por hoje agradeça as bênçãos.
Só por hoje, faça seu trabalho honestamente.
Só por hoje, seja gentil com o próximo e com todos os seres vivos.

Que tal seguir estes cinco princípios?
Só por hoje...
...a cada dia!

Reiki


Reiki é uma palavra japonesa composta por dois Kanji: Rei significa Energia Universal e Ki quer dizer Energia Individual; na união dos dois kanji, resulta o significado Energia Vital Universal.
O Reiki é assim um método de cura natural que funciona através da imposição das mãos, onde o terapeuta utiliza a Energia Rei para harmonizar a Energia Ki do receptor, proporcionando-lhe um equilíbrio energético nos níveis físico, emocional, mental e espiritual.

Este equilíbrio é essencial para que o nosso organismo tenha um bom funcionamento pois é frequentemente desequilibrado com angústias, medos, ódios, raivas, preocupações, pensamentos e atitudes negativas, alimentação incorrecta, falta de autoconfiança e amor próprio e stress, entre outros.

A energia desarmonizada do nosso corpo, ao ser reequilibrada através do Reiki, promove a estabilidade, o aperfeiçoamento e a melhoria da qualidade de vida em todos os níveis do Ser.

O Reiki não tem nenhuma conotação religiosa; é para além de um sistema de cura natural, um método para a expansão da consciência, que nos coloca em contacto com a nossa verdadeira essência, despertando-nos o coração, o Amor Incondicional, levando-nos à comunhão com o Universo e proporcionando um gratificante estado de Paz Interior. O Reiki pode ser aprendido e praticado por qualquer pessoa.

O Reiki pode ser usado em conjunto com qualquer outro método de tratamento convencional (médico) e não dispensa a intervenção deste. O Reiki minimiza os efeitos secundários dos medicamentos e potencializa os seus efeitos.

Este método de cura é também usado para beneficiar animais e plantas.

28 de mar. de 2008

Lágrimas desertas


Minha mãe bordava lágrimas desertas nos primeiros arco-íris
Vicente Huidobro
Picture by Jessie Wilcox-Smith

O cotidiano


O cotidiano contém em si o abuso do cotidiano: o cotidiano tem a tragédia do tédio da repetição, mas há uma escapatória: é que a grande realidade é fora de série
Clarice Lispector
Picture by Manolo Valdez

A perfeição


Não procure a perfeição, não há nada lá
Paulo Lemisnki
Picture by Veronique Vadon

Existir


Existir é um perfume sem suporte, um grão de memória, uma simples fragrância; alguma coisa como um gasto, como só um haicai japonês soube dizer, que não é recuperado em nenhum destino
Roland Barthes
Picture by Lucas Valckenborch

Paciência

Ah! Se vendessem paciência nas farmácias e supermercados...

Muita gente iria gastar boa parte do salário nessa mercadoria tão rara hoje em dia.
Por muito pouco a madame que parece uma 'lady' solta palavrões e berros que lembram as antigas 'trabalhadoras do cais'.
E o bem comportado executivo?
O 'cavalheiro' se transforma numa 'besta selvagem' no trânsito que ele mesmo ajuda a tumultuar.
Os filhos atrapalham, os idosos incomodam, a voz da vizinha é um tormento, o jeito do chefe é demais para sua cabeça, a esposa virou uma chata, o marido uma 'mala sem alça'. Aquela velha amiga uma 'alça sem mala', o emprego uma tortura, a escola uma chatice.
O cinema se arrasta, o teatro nem pensar, até o passeio virou novela.
Outro dia, ví um jovem reclamando que o banco dele pela internet estava demorando a dar o saldo, eu me lembrei da fila dos bancos e balancei a cabeça, inconformado.

Ví uma moça abrindo um e-mail com um texto maravilhoso e ela deletou sem sequer ler o título, dizendo que era longo demais. Pobres de nós, meninos e meninas sem paciência, sem tempo para a vida, sem tempo para Deus.
A paciência está em falta no mercado, e pelo jeito, a paciência sintética dos calmantes está cada vez mais em alta. Pergunte para alguém, que você saiba que é 'ansioso demais' onde ele quer chegar?

Qual é a finalidade de sua vida?
Surpreenda-se com a falta de metas, com o vago de sua resposta.
E você?
Aonde você quer chegar?
Está correndo tanto para quê?
Por quem?
Seu coração vai agüentar?
Se você morrer hoje de infarto agudo do miocárdio o mundo vai parar?
A empresa que você trabalha vai acabar?
As pessoas que você ama vão parar?
Será que você conseguiu ler até aqui?

Respire...

Acalme-se...

O mundo está apenas na sua primeira volta e, com certeza, no final do dia vai completar o seu giro ao redor do sol, com ou sem a sua paciência.
Arnaldo Jabor
Picture by Patssi Valdez

27 de mar. de 2008

A libido


A libido é um conceito muito trabalhado pela psicanálise que se constitui numa carga energética que tem origem na sexualidade. É importante ressaltar que a sexualidade não se localiza apenas no aparelho genital.

A libido é uma energia humana que faz os indivíduos buscarem a realização de suas necessidades básicas, como a fome, por exemplo, e também as prazeirosas.

Parte da libido é reprimida a partir do complexo de Édipo, parte é deslocada para outros atos humanos como estudar, fazer arte, trabalhar e outras atividades que temos ao longo de nossas vidas, e uma última parte fica disponível para o prazer sexual.

A libido é a energia que move o homem a se relacionar com os objetos. Se não fosse pela libido o homem não iniciaria sua relação com o mundo. É esta energia que garante que as crianças comecem a brincar, locomoverem-se e explorar a realidade à sua volta.

A capacidade de canalizar a libido para o mundo exterior é fundamental para o equilíbrio do ser humano. Problemas nesta canalização podem ocasionar falhas na socialização, como o autismo, auto-agressão, masturbação compulsiva e outros distúrbios de comportamento. Na linguagem comum, a libido pode ser entendida como “vontade” e para entender melhor este conceito podemos nos remeter a nossas expressões quotidianas: “não estou com vontade”; “sem vontade não há solução”.

Estas formas de expressão sinalizam a importância da libido em todas as nossas ações. Libido é um termo que significa vontade e desejo. De um ponto de vista qualitativo, Freud definiu que a libido é irredutível a uma energia mental não especificada como propunha Jung. Para Freud a libido afirma-se sempre mais como um processo quantitativo, permitindo medir os processos e as transformações no domínio da excitação sexual.
Ricardo Sehnem

26 de mar. de 2008

A abelha e o negro escaravelho


Não sou como a abelha saqueadora que vai sugar o mel de uma flor, e depois de outra flor.

Sou como o negro escaravelho que se enclausura no seio de uma única rosa e vive nela até que ela feche as pétalas sobre ele; e abafado neste aperto supremo, morre entre os braços da flor que elegeu.
Roger Martin du Gard

Olhos abertos, sempre


Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão.
Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível.
Sun Tzu

O despertar da consciência

Durante o seu desenvolvimento, o ser humano passa por muitas fases. Quando nasce - assim como na vida intra-uterina -, encontra-se ainda fundido à mãe, percebendo tudo à sua volta como uma extensão de si mesmo.
Alguns meses mais tarde, porém, irá se diferenciar, percebendo-se e notando o mundo ao seu redor. A criança pequena vive estreitamente essa relação: quando quer algo que lhe é negado, esperneia ficando brava; se fica triste, logo chora.
Assim vamos crescendo, e crescendo também vai a nossa capacidade de percepção e expressão. A forma como nos percebemos, nos sentimos e nos expressamos na vida tem relação com nossa história. O que somos é reflexo da carga genética, de características inatas e influências do mundo externo (educação, modelos,experiências vividas). Isso tudo constrói uma forma de ser, se relacionar, funcionar e se movimentar na vida. Socialmente, há um apelo para estarmos bem e produtivos.
Apesar dos dias atribulados, no fim de semana precisamos fazer o que não deu tempo nos outros dias, além de nos divertir e descansar. Hoje já se fala no "stress do fim de semana".
Então, estamos sempre envolvidos com o movimento, voltados para fora e desligados de nós mesmos, criando um automatismo.
Então, cabem algumas perguntas. Você costuma ter tempo para si mesmo? Pára um minuto para perceber como está se sentindo? Não é o mundo que precisa mudar para que a gente fique bem; nós é que precisamos encontrar novas formas de lidar com velhas situações. Devemos olhar para dentro e responder nossas perguntas, para descobrirmos o que queremos, o que é bom, por onde ire onde queremos chegar.
Encontrar tempo para si mesmo, perceber como está se sentindo e atender às suas próprias necessidades são coisas que exigem um trabalho de autoconhecimento.
Denise P. M. Leite - Psicóloga

Eu caçador de mim


Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim
Milton Nascimento

De sete em sete, uma pausa para crisalidar

Tenho vivenciado este período como se fosse me tornar borboleta. Só que antes de ser borboleta, é preciso ser larva, com toda a feiúra que lhe cabe.

Sempre me encantei com a beleza das borboletas, especialmente depois de conhecer o processo pelo qual elas passam até que estejam maduras o bastante para romperem a crisálida e se mostrarem tão estonteantemente belas.

Durante a fase de crisálida, a lagarta é transformada em borboleta. Dentro das crisálidas ocorre o seu processo de crescimento. Esta rápida e brusca mudança é chamada metamorfose. Quando a transformação está completa, a crisálida se rompe e a borboleta sai de seu interior.

Quando suas asas ficam esticadas e secas, ela está pronta para voar. Enquanto larva, busco uma nova lucidez, um novo degrau dentro do meu coração; e a beleza e prontidão para o vôo, no meu caso, têm a ver com a conquista desta clareza interior, que me revelará uma nova mulher e, certamente, uma nova escritora, já que escrever está para mim assim como fazer o mel está para a abelha. Fazendo uma retrospectiva, novamente me dei conta de algo que havia notado quando estudei Antroposofia e os preceitos de Rudolf Steiner: minha vida tem acontecido em setênios.

Na antiga cultura grega costumava-se dividir a vida humana em dez períodos de sete anos ou setênios. No início do século XX, Rudolf Steiner retomou essa idéia, que tem larga aplicação nos estudos biográficos realizados por psicólogos e médicos que trabalham orientados pela Antroposofia.

No meu livro "Alma Gêmea Segredos de um Encontro" descrevo mais detalhadamente essa teoria e como ela se desenrola em nossas vidas.

Mas aqui, agora, o que sei é que aos 7 e aos 14 anos de idade, minha vida foi marcada por acontecimentos familiares que influenciariam para sempre meu modo de enxergar as relações pessoais.

Aos 21, além de terminar a faculdade de jornalismo, casei e engravidei de meu único filho. Aos 28 tornei-me escritora de fato.
Hoje, prestes a completar o quinto setênio, seja por acaso, coincidência ou sincronia (os porquês me importam pouco neste processo), entrego-me à minha sombra e, diante dela, concentro-me na recriação de minhas asas, mas compreendo que ser larva é condição indispensável para que eu fique pronta para um novo vôo.
Rosana Braga

25 de mar. de 2008

Elevador aquário!


Imagine mergulhar no maior aquário cilíndrico do mundo dentro de um elevador. Pois isto não só possível, como também pouco conhecido pelos viajantes que visitam a Europa.

O Aquadom, em Berlim, na Alemanha, é um aquário de 25 metros e mais de 2.600 peixes de água salgada. A viagem pelo elevador translúcido é fascinante.
O elevador é cercado por 900 mil litros de água.

Gentilmente enviado pela bela Ana Calais

Sofá para sogra




Sua sogra tem te visitado muito?

Mudamos nós ou mudaram as crianças?


Ser criança no terceiro milênio será fácil e prazeroso, ou um desafio aos nossos pequeninos?

Me pergunto:

O que acontece com eles quando a sociedade investe num amadurecimentoprecoce e exigente, impondo um modelo de pequeno adulto a ser seguido?

O que tem de diferente a criança do terceiro milênio?
o acesso à internet, a velocidade das comunicações, o conhecimento precoce sobre temas como clonagem, violência, transplantes e seqüestros, balas perdidas, terrorismo, está mudando a natureza infantil?

Até que ponto o amigo virtual, a forma de brincar interagindo com a máquina, o vídeo game e sua ética de adquirir novas vidas todas as vezes que vence oumata o adversário, o hábito de comprar brinquedos e não construí-los e usarmuito mais os dedos que as pernas , a brincadeira sedentária e solitária, a presença da realidade substituindo a fantasia, roupas de adulto, salto alto, baton e o namoro precoce, sobretudo a sobrecarga de responsabilidade, horários e compromissos está mudando a identidade infantil?

Mudaram as crianças ou mudamos nós?

No contato com milhares de crianças, que a minha experiência profissional me permite, percebo que elas não mudaram. Têm um olhar encantador de manhãs douradas, têm mãos inquietas como as do criador, têm sorrisos abertos e doces como a brisa da tarde. Ganham tempo olhando formigas, sentindo a terra e provando o orvalho sempre que incentivadas.

Mudamos nós, que deixamos de falar de estrelas, sacis e cucas. Que esquecemos de olhar o céu, de ver o manto estrelado da noite, de pensar nas cores dos peixinhos do mar, nos brilhos dos raios do sol, nas cores do arco-íris. De cantar e contar histórias. Ficamos estáticos, deixamos de voar nas asas das borboletas e dos pirilampos. Trocamos a leveza dos sonhos e da fantasia pelo peso de uma realidade que cai sobre nossos ombros e nos paralisa de tanto cansaço.

A nossa verdade ficou dura e a nossa realidade cinzenta. Mudamos nós que apressamos a vida, que contabilizamos sorrisos, olhares, palavras e dinheiro, que fazemos das crianças seres como nós, que impomos etapas queimadas, que lhes impingimos agendas cheias de horários estressados, roubando deles o tempo e o espaço de ser criança, a ternura e a descomplicação de um ser que tem que ter seu tempo de crescer normal, para existir completo.

Mudamos nós, quando nos conformamos com o que foi feito das nossas crianças. Pequenos adultos com gastrite e colesterol, presos em apartamentos, longe do sol, expostos à solidão do brinquedo eletrônico. Aprendendo a vencer para não ser vencido, a matar para não ser morto, a confundir a vida real com a realidade virtual.

Mudamos nós quando esquecemos a simplicidade de uma brincadeira que favorecea intimidade e o toque, que aproxima mãos olhares e corações, trocamos o pirulito que bate bate, a largata pintada a pintalaínha, a brincadeira que investe na descoberta do outro na parceria na troca de informação e cooperação, pela passividade de telespectadores e cinéfilos. Brinco com crianças toda a minha vida, aprendi com elas que benéfico é sempre o equilíbrio.

Que elas tenham acesso a toda modernidade, mas também sejam garantidas horas livres, companheiros, espaços de vida ao ar livre, a oportunidade de inventar e criar seus próprios brinquedos, de conviverem entre si e inter classes, para aprenderem a respeitar o conhecimento alheio,valorizar a troca de saberes e desenvolverem uma convivência democrática e participativa na sociedade que tem na sua cultura da brincadeira, a identidade da infância brasileira.
Nairzinha - pesquisadora da Cultura da Brincadeira Brasilleira
Picture by Jo Parry

24 de mar. de 2008

A dor



Pouco dura a dor que termina em lágrimas, e muito longo é o período em que o sofrimento permanece no coração.
Pietro Aretino

Dívida eterna



Onde poderemos nós alguma vez encontrar alguém que tenha recebido seja de quem for mais benefícios do que aqueles que os filhos receberam dos pais.
Xenofonte
Picture by Leonid Pasternak

O que há dentro de nós



O que fica atrás de nós e o que jaz à nossa frente têm muito pouca importância, comparado com o que há dentro de nós.
Ralph Emerson
Picture by Jean-Michel Basquiat

Violência!



Violência! Violência!
Quem não é capaz de se opor à violência?
O que chamamos de violência não é nada;
a sedução é a verdadeira violência.
Gotthold Lessing
Picture by Aldo Molinari

23 de mar. de 2008

Napoleão


O fator determinante que permitiu a Napoleão Bonaparte chegar a general de divisão do Exército francês com apenas 24 anos de idade foi ter apoiado o movimento revolucionário contrariando a imensa maioria dos oficiais formados nas academias da França que abria apenas à elite aristocrata. Napoleão também era, mas de uma família italiana destroçada pelas dívidas e chegada aos domínios franceses com a anexação da Córsega um ano antes de seu nascimento.

Não tendo possibilidade de progredir no meio de oficiais de sangue bemmais azul e tradicional do que o dele, não titubeou em debandar pelo lado da Revolução, ganhando, assim, os favores da Assembléia Nacional. O resto da escalada se deu pela sua peculiar habilidade em se movimentar no sangrento e esquizofrênico ambiente da época. Abraçou a causa revolucionária a seu modo e, mesmo quando se proclamou imperador, manteve a fachada de antimonarquista que aglutinava emsua volta forças ideológicas populares e emergentes. O que não lhe impediu de casar-se com a duquesa Maria Luisa d’Áustria, da casa real de Adsburgo, sobrinha-neta da rainha guilhotinada Maria Antonieta, consorte de Luiz XVI.

Objetivo, pragmático, ele foi o próprio "príncipe" que Maquiavel idealizou e não conheceu. Capaz de tomar decisão moral e espiritualmente perigosa sem piscar, Napoleão colheu extraordinárias vitórias conjugando dotes de comandante de exército, de letrado- filósofo e de político - eclético, observador, frio, carismático e determinado como Xenofonte, Alexandre o Grande ou como Júlio César, sabia dosar commaestria suas aspirações pessoais com os desígnios "sobrenaturais" que pousavamem sua alma inquieta. Rigor espartano, carinho paterno, inabalável na capacidade de aceitar a responsabilidade, capturava a fidelidade dos soldados transformando ovelhas em leões, desvalidos em heróis.

Napoleão se sentia em casa em pleno inferno, sem se perturbar com o sofrimento e a morte. Misto de loucura e de cálculo, estóico e messiânico, Napoleão assistiu ao suicídio de um oficial subordinado, inconformado com sua decisão "desumana", sem mudá-la ummilímetro. A ele se referiu umoficial piemontês derrotado, "a impressão que se tinha desse jovem comandante era de dolorosa admiração; o intelecto ficava deslumbrado com a superioridade de seu talento".

O mundo se ajoelhou,mas não foi vencido por ele. Um atento estudioso, Karl Von Clausewitz, procurando as razões dos triunfos napoleônicos, observou: "Força moral, mais que números, é o que decide a vitória. O moral está para o físico como três para um". Nenhuma saudade de Napoleão, mas a moral que ele tinha para arrastar homens ao sacrifício, hoje não se encontra em lugar nenhum!
Vittorio Medioli

O resgate de Napoleão

Animados pela Revolução Pernambucana de 1817, um grupo de emigrados franceses nos Estados Unidos elaborou um plano para resgatar o imperador em Santa Helena e trazê-lo para a América usando o Brasil como base de operações

A fama e o fascínio por Napoleão estiveram bem presentes no Brasil nos primeiros 20 anos do século XIX. Em 1801 o futuro imperador francês poderia ter sido o patrono do primeiro movimento pernambucano para fundar uma república no país, a frustrada conspiração dos Suassunas.

A influência de sua figura e das idéias liberais da Revolução Francesa e da independência dos Estados Unidos da América esteve muito presente entre os revolucionários pernambucanos do século XIX, desde a conspiração de 1801 até o triunfo da Revolução de 6 de março de 1817 no Recife, que proclamou a República no Nordeste.
Tais ligações se tornariam ainda mais estreitas quando militares bonapartistas exilados nos Estados Unidos, animados com o sucesso da Revolução Pernambucana, elaboraram um plano para resgatar Napoleão de seu cativeiro em Santa Helena, levá-lo a Pernambuco e depois a Nova Orleans.
O elo entre os franceses e o Brasil era Antonio Gonçalves da Cruz, o Cabugá, homem enviado pelos revolucionários nordestinos como seu representante junto ao governo dos Estados Unidos no intuito de obter o reconhecimento formal da independência de Pernambuco. Os bonapartistas estiveram em contato permanente com Cabugá, que era um entusiasta do plano dos exilados franceses.

A queda do império napoleônico, em 1815, significou para a quase totalidade dos oficiais dos exércitos franceses uma verdadeira catástrofe. Com o imperador nas mãos dos ingleses, os generais e coronéis que haviam combatido em Iena, Marengo, Leipzig, na Rússia e em Waterloo encontravam-se em situação muito difícil, pois ou prestavam juramento de fidelidade a Luís XVIII, ou se contentavam em receber meio soldo apenas. Por isso, numerosos oficiais preferiram o exílio nos Estados Unidos, onde havia oportunidades para “soldados de fortuna”.

Assim, poucos meses depois da queda do império, já estavam nos EUA cerca de mil oficiais franceses de várias patentes, cujo único pensamento era libertar o imperador que definhava no clima severo da ilha de Santa Helena, em pleno oceano Atlântico, na altura de Pernambuco. O chefe da conspiração francesa nos EUA era o irmão do imperador, José Bonaparte, que fora rei da Espanha.

Por meio do contato com Cabugá viram no Brasil uma possibilidade de colocar em prática seus planos, e numerosos militares franceses começaram a se deslocar para Pernambuco a fim de preparar a cabeça-de-ponte da operação. Durante os três meses de vida da República de Pernambuco, Cabugá adquiriu armamentos e munições e os enviou ao Brasil. Mesmo após a derrota da revolução, ele continuou ajudando os franceses exilados que planejavam o rapto de Napoleão e conseguiu articular a vinda para o Brasil de dois navios corsários, o Parangon e o Penguin.

Outro fator que contribuiu para os planos dos franceses foi a decisão do Departamento de Estado americano de designar um representante permanente em Recife, o cônsul Joseph Ray, que desempenharia papel significativo no decorrer da Revolução de 1817, abrigando em sua casa cidadãos franceses que chegavam para incorporar-se à expedição que iria seqüestrar Napoleão. A oportunidade era esplêndida para os emigrados franceses nos EUA, que se aproveitaram dos bons ofícios de Cabugá em Washington e da estratégica posição de Ray em Recife.

Correspondência citada por Donatello Grieco em seu excelente livro Napoleão e o Brasil informa que os oficiais franceses convergiram para o porto de Baltimore e um grupo avançado de 32 homens chefiado pelo coronel Latapie viajou para Pernambuco. Foram adquiridas duas escunas que estavam em Baltimore e Anápolis. O ponto de reunião de toda a expedição era a ilha de Fernando de Noronha, onde Portugal mantinha uma prisão especial. Lá deveriam reunir-se 80 oficiais franceses, cerca de 700 americanos e outro navio com 800 marinheiros. Essas forças deveriam atacar Santa Helena visando a capital Jamestown, mas isso seria apenas uma manobra para atrair os defensores ingleses, deixando livres a Sandy Bay e a Prosperous Bay, onde desembarcaria a maioria das tropas da expedição.


Um grupo se dirigiria à residência de Napoleão e o levaria para a Prosperous Bay. Seguiriam para Recife e viajariam depois para Nova Orleans. A bordo do navio Parangon chegaram ao Rio Grande do Norte em agosto de 1817 alguns dos principais personagens da expedição francesa.
O mais importante deles era o conde de Pontécoulant, pitoresco personagem de vida aventureira, apesar de sua alta linhagem gaulesa. Ao desembarcar teve a má notícia de que a Revolução de 1817 fora afogada, mas o fato não era tão grave assim porque Joseph Ray, o cônsul americano em Recife, continuaria a dar-lhes plena cobertura.

Em Natal não encontrou maiores dificuldades, pois conseguiu fazer boas relações de amizade com o secretário do governador. Decidiu passar-se por médico e botânico e partiu para a Paraíba, onde o Parangon havia desembarcado o general Raulet, o coronel Latapie e outros personagens franceses de patente mais baixa.

Na Paraíba, o conde não teria a mesma boa recepção, pois o governador local mandou prender todos os franceses encontrados, enviando-os depois para Pernambuco. Em Recife tiveram melhor sorte, pois o governador Luiz do Rego não encontrou em seus papéis nada de suspeito e os liberou. Foram hospedar-se na casa do cônsul Ray, que se tornaria o centro de todas as medidas para o êxito da expedição francesa a Santa Helena. Nesse momento aportou em Recife outra escuna americana carregada de armamentos, o que alarmou o governador pernambucano, que não sabia como controlar o cônsul Joseph Ray.

Sucedeu então o imprevisto: o coronel Latapie solicitou audiência ao governador Luiz do Rego e resolveu relatar-lhe tudo sobre a expedição que estava sendo preparada. Contou-lhe o papel do ex-rei da Espanha, José Bonaparte, irmão de Napoleão, que deveria chegar a Pernambuco nos próximos dias e todas as implicações de uma delicada questão internacional. O governador afinal deu-se conta da importância dos fatos e decidiu encaminhar os franceses às autoridades portuguesas da capital. No Rio de Janeiro ocorreu outra surpresa: um cidadão americano declarou ao presidente da Alçada que o cônsul Ray estava em contato direto com Cabugá e os líderes da expedição francesa. O cônsul acusava o governador de Pernambuco de prejudicar os interesses comerciais dos EUA.

Afirmava Ray abertamente que seria muito fácil obter a independência do Brasil, porque o governo português do Rio de Janeiro ficaria reduzido à impotência pela intervenção armada dos Estados Unidos e a neutralidade da Inglaterra. O interrogatório de tripulantes do navio americano confirmou essas declarações alarmantes do diplomata.

Segundo o relato de Ferreira da Costa em seu A intervenção napoleônica no Brasil, o conde de Pontécoulant, assustado, preferiu regressar ao Rio Grande do Norte para obter proteção de seu amigo, o secretário do governador, mas nova complicação ocorreu com o aparecimento de outro navio americano, o Penguin.

Procedente de Nova York, a embarcação trazia mais armamentos enviados por Cabugá, e seus tripulantes transmitiram notícias alarmantes, assegurando até que Napoleão já se evadira de Santa Helena. Em Recife, no início de 1818, o governador Luiz do Rego, convencido da cumplicidade do cônsul americano, pediu ao Rio de Janeiro autorização para efetuar uma busca na casa dele e lá encontrou três pernambucanos implicados na Revolução de 1817, além de alguns franceses, prova cabal de sua conivência.

A imunidade consular salvou Ray, mas seu secretário dinamarquês foi preso e relatou todos os pormenores da associação dos franceses com os revolucionários de 1817, do que resultou a prisão do general Raulet. Nesse ínterim, chegavam ao Ceará mais franceses ilustres a bordo da fragata Les Trois Frères. Os bonapartistas contavam que na França se falava com entusiasmo do sucesso da Revolução Pernambucana e vários franceses decidiram embarcar para o Brasil a fim de juntar-se à expedição destinada a Santa Helena.

As autoridades portuguesas começaram a preocupar-se seriamente com a chegada de dezenas de franceses de alta estirpe que não podiam trancafiar impunemente sem protesto do governo francês, com o qual Portugal mantinha agora excelentes relações. Por outro lado, o governo português não podia deixar de reagir ao imbróglio que aumentava com os protestos do governo inglês, seu aliado, interessado em manter Napoleão em segurança na sua ilha. Os juristas estavam confusos e afinal a corte portuguesa ordenou à polícia carioca “transportar para a Europa todos os emigrados franceses que se encontravam no Brasil”.

Em Santa Helena o comandante inglês sir Hudson Lowe estava ao corrente de tudo o que acontecia no Brasil pelo ministro inglês no Rio de Janeiro e tomou diversas medidas para reforçar a defesa da ilha. Instalou telégrafos e novas baterias em Sandy Bay, em Prosperous Bay e na capital Jamestown, os três pontos mais vulneráveis.
Os planos dos bonapartistas nunca se concretizaram, mas os franceses dificilmente teriam tido sorte em sua iniciativa de raptar o imperador da ilha solitária. Não seria nada fácil, pois os ingleses sabiam dos planos dos franceses e tomaram precauções eficazes para resistir. Se ele tivesse aportado em Recife a caminho de Nova Orleans, durante a Revolução de 1817, certamente seus próceres tentariam retê-lo por algum tempo para homenageá-lo, mas isso dificilmente se realizaria.
É claro que se d. João VI tivesse conhecimento de que Napoleão estava em Recife, mandaria apresá-lo imediatamente para vingar-se de sua ignominiosa fuga de Lisboa em 1808, escapando às tropas do general Junot. Que magnifico refém seria Napoleão para d. João VI! Na época o monarca estava negociando com Luis XVIII a devolução da Guiana francesa, ocupada em 1809 por tropas da Amazônia. Por isso é natural que, se os exilados Franceses tivessem obtido sucesso no seqüestro de Napoleão, eles o teriam levado diretamente para os EUA, sem escala em Recife, que serviria apenas de cabeça-de-ponte inicial para a planejada operação de resgate.
Vasco Mariz

Picture by Jacques-Louis David, Pierre Chapuis,Pierre Chapuis, Ernest Croft

22 de mar. de 2008

Poço dos desejos

A orquestra


Se todos se empenharem em ser solistas, nunca será possível formar uma orquestra.
Robert Schumann, compositor

Não vou pra Pasárgada


Eu já estava de malas prontas: ia pra Pasárgada (para quem não se recorda, é o reino feliz inventado por Manuel, o Bandeira; para quem não sabe, ele foi um poeta maravilhoso).
Queria escapar deste reino das frases infelizes e atitudes grotescas, dos reis feios e nus, das explicações cabotinas, da falta de providências e de autoridade, da euforia apoteótica de um lado e da realidade tão diferente de outro.

Pasárgada podia ser um bom lugar, onde se acredita nas instituições e nos líderes, onde vale a pena ser honrado e os malfeitores vão direto para a cadeia, onde se tomam providências antes que tudo desabe. Lá, ao contrário daqui – em que a manada se divide entre os ingênuos, os que sabem das coisas mas se conformam e os aproveitadores –, autoridade serve para cuidar do bem do povo, decoro é simplesmente decência, seja em algum cargo, seja na vida cotidiana de qualquer um.

Na minha nova pátria eu tentaria não escrever mais sobre o que por estas bandas tem me angustiado ou ameaça transformar-se num tristíssimo tédio: sempre os mesmos assuntos? Mandaria só questionamentos sobre o que faz a vida valer a pena: as coisas humanas, como família, educação, transformações, relacionamentos e separação, responsabilidades e escolhas, alegria, vida e morte, incomunicabilidade e o mistério de tudo – até a dor (mas que seja uma dor decente).

Nem problema de transporte eu teria: para Pasárgada se viaja com o coração e o pensamento. Ainda bem, pois de avião seria loucura e risco. Desses meses todos me ficou inesquecível o trabalhador humilde cochilando numa cadeira de aeroporto que, entrevistado sobre toda a confusão, respondeu: "A casa já caiu, o brasileiro tem de se conformar". Ninguém faz nada? – perguntam-se as pessoas, no limite de sua capacidade de espanto. A impressão que estávamos tendo, nós, comuns mortais, era que resolver problemas e impor ordem importava bem menos do que distribuir ilusões como quem distribui pirulitos. É para rir ou para chorar? Ora rimos, ora choramos, esse é o novo jeito brasileiro de ser.

Cresce a economia, encolhe a respeitabilidade; pisca uma luzinha de esperança, mas a seriedade extraviou-se. Poucos andam à sua procura. Aumenta o isolamento dos homens e mulheres públicos respeitáveis, que mais parecem dinossauros sobreviventes de um tempo em que seria totalmente impensável o que hoje é pão nosso de cada dia. Eu ia embora porque enjoei dessa repetição obsessiva de fatos que provocam insônia no noticioso da noite e náusea no café-da-manhã. Ia partir sem endereço, sem telefone, sem e-mail. Levaria comigo pássaros, crianças e esta paisagem diante da minha janela (com nevoeiro, porque aí é de uma beleza pungente). Levaria família, amigos, livros, música e o homem amado. Ah, e as minhas velhas crenças de que não somos totalmente omissos ou sem caráter, portanto este país ainda teria jeito, embora neste momento eu não tenha muita fé nisso.

Achei que em Pasárgada eu correria menos risco de me tornar descrente: eu, que detesto o ceticismo e não vivo bem com os pessimistas, agora tenho medo de me contagiar. Podia me livrar da suspeita de que por trás de tudo isso existe algo muito sério, gravíssimo, que nós, rebanho alienado, desconhecemos. Quem sabe até terminasse o romance que venho escrevendo, num compasso de desânimo que nada tem a ver com literatura: nasce do meu amor por este país, ao qual dei meus filhos e meus netos para nele crescerem.

Mas então, entre lideranças que negavam qualquer problema, fazendo afirmações estapafúrdias e divertindo-se talvez com nossa agonia, soprou um vento de lucidez e autoridade – parece que as coisas se reorganizam. Botar a casa em ordem ao menos nos aeroportos não podia ter levado tanto tempo, pobres de nós, mas hoje não precisarei ter medo se um de meus filhos viajar de avião. Amanhã é um enigma (sabe se lá o que vai acontecer no breve intervalo entre escrever esta coluna e ela ser publicada).

E assim, na última hora, decidi ficar. Acho que me sentiria como quem deserta de um grupo com o qual tem laços muito fortes: meus leitores. Os que me acompanham, os que pensam diferente e até os indignados – às vezes por terem lido algo que nem estava ali. Todos são importantes para mim. Com eles tem sido imensamente estimulante partilhar alegrias e preocupações, descobertas ou receios. Afinal, somos irmãos, filhos desta mãe, que, com decoro, firmeza e vontade, será melhor do que qualquer Pasárgada inventada.
Lya Luft

A ética dos encontros descartáveis


Falar de amor e sexo no século XXI implica refletir sobre a "sociedade do espetáculo" descrita pelo polêmico pensador francês Guy Debord. O autor analisa uma forma de estar no mundo em que a vida real é, inexoravelmente, pobre e fragmentada - e as pessoas são obrigadas a assistir e a consumir passivamente as imagens de tudo que lhes falta em sua existência subjetiva.
Essa perspectiva me remete ao termo "ficar" - rótulo informal para os encontros efêmeros e descartáveis, nos quais ver, ser visto e aparecer reduzem os casais a machos e fêmeas no cio. Os pares são transitórios, os arranjos duram apenas algumas horas, talvez dias. Ou minutos.
É o tempo do desejo saciado.A disposição para a entrega, para o "outro" e para o amor vive (ou sobrevive) sob o impacto do exagero, da aceleração e da competitividade. A sexualidade é experimentada como mais um produto de consumo, fica disponível num mercado de troca que não vai além da dimensão ilusória.

"Ficar" denuncia uma nova ordem das coisas e o inevitável entrelaçamento entre indivíduo e mundo. Uma espécie de voyeurismo, que ao mesmo tempo exibe e excita, restringe o potencial criativo dos verdadeiros encontros à mera satisfação carnal. "Ficar" torna-se o absolutismo literal, comprometendo a fusão com os outros sentidos. Impede a elaboração das fantasias indispensáveis à compreensão do que está por trás da banal conexão entre os pares e do que poderia ser apreciado, sentido e vivido como metáfora para novos e mais criativos estilos de relacionamento.

O "ficar", então, se legitima. Homens e mulheres experimentam, por meio da projeção, aquilo que não são e desenvolvem a fobia da entrega, do compromisso e da rejeição, autorizando a ética do provisório - uma lógica que interpreta um conjunto de valores passageiros e tenta estabelecer entre eles alguma ordem que os justifique.


O não-envolvimento, efeito dessa projeção, funciona como vacina que os imuniza contra prováveis desencontros, que invariavelmente ocorrem quando as exigências de suas verdadeiras imagens anímicas projetadas não são mais atendidas. Inconscientes da própria essência, muitos optam por relacionamentos compulsivos e superficiais, que alternam a necessidade de amar e abandonar. Em sua não-existência vazia, na qual um pode ser todas as coisas para o outro, vivem como verdadeiros camaleões, que se defendem dos predadores assumindo as características que o meio lhes impõe.

E passam a reproduzir infinitamente tal comportamento até que uma pálida e sutil inquietação interna os desarme para um primeiro contato com suas demandas da alma. Buscar na mitologia o pano de fundo que dá sentido às várias formas de estar no mundo é premissa básica da psicologia arquetípica. Associar histórias pessoais a mitos revela muito de nós, em várias etapas da vida. O mito de Ísis-Osíris, por exemplo, nos oferece informações e possibilidades de reflexão a respeito do "ficar".

Quando Osíris foi assassinado e desmembrado pelo irmão Seth, Ísis saiu à procura dos pedaços desse corpo amado, esquartejado e disperso pelo Egito, juntando todas as partes, exceto o órgão sexual, que foi substituído por um falo de ouro. Osíris renasceu reconstituído em Amenti - o mundo subterrâneo análogo ao Hades grego, o lugar onde está a psique, a morada da alma. E com o falo artesanalmente construído gerou Hórus - a possibilidade de germinar o novo não-efêmero, que facilita a cada ser viver de forma inteira uma relação harmoniosa de amor e cumplicidade.

Ísis é atribuído o "poder" do renascimento, que psicologicamente significa o reconhecimento de que a possibilidade de discriminação no mundo visível está intimamente relacionada ao contato com os mistérios do universo inconsciente. Esse mito fala de mulheres que buscam nos encontros provisórios partes do Osíris despedaçado em cada homem com quem se relacionam; e de homens acreditando que o grande mistério de sua vida se restringe à potência do falo de ouro, por meio do qual são estabelecidas relações de poder e submissão. Quanto maior a anestesia provocada por imagens coletivas estereotipadas e superficiais, menor a possibilidade do contato com o mundo interior e com a realidade multifacetada do "outro".

Nos dois últimos versos do "Soneto da fidelidade", Vinicius de Moraes propõe uma saída criativa para o misterioso prazer dos verdadeiros encontros: "que não seja imortal, posto que é chama, mas seja infinito enquanto dure".

Silvia Graubart, analista junguiana

21 de mar. de 2008

Quaresma


Quaresma é tempo de jejum?

A Quaresma deverá ser um tempo para “jejuar” alegremente de certas coisas e também para “fazer festa” de outras.

Neste tempo deveremos:

- jejuar de julgar os outros e festejar porque Deus habita neles.

- jejuar do fixarmo-nos sempre nas diferenças e fazer festa por aquilo que nos une na vida.

- jejuar das trevas da tristeza e celebrar a luz.

- jejuar de pensamentos e palavras doentias e alegrarmo-nos com palavras carinhosas e edificantes.

- jejuar de desilusões e festejar a gratidão.

- jejuar do ódio e festejar a paciência santificadora.

- jejuar de pessimismos, e viver a vida com otimismo como uma festa contínua.

- jejuar de preocupações, queixas e egoísmos; festejar a esperança e a Divina Providência.

- jejuar de pressas e angústias; fazer festa em oração contínua à Verdade Eterna.

Quaresma tempo de encontro com Deus.
Picture by Caravaggio

20 de mar. de 2008

As mudanças e os inconvenientes


As mudanças nunca ocorrem sem inconvenientes, até mesmo do pior para o melhor.
Richard Hooker
Picture by Georges Seurat

Mudanças


Temos aversão a tudo o que nos restringe e incomoda, a qualquer limite da realidade. A palavra disciplina tem a mesma origem da palavra discípulo e significa a capacidade de aprender com os erros e, portanto, de mudar. Como nos foi ensinada de fora para dentro, de maneira autoritária, todas as nossas obrigações se tornaram pesadas e quase um sacrifício.
Nossa maior resistência às mudanças é que não queremos ser incomodados. E a iniciativa é a capacidade de romper com o status quo, de quebrar círculos viciosos que vamos construindo no decorrer de nossa vida. As conseqüências da protelação, de empurrar com a barriga nossas transformações são o tédio e a insatisfação.
Para o nosso crescimento, temos um desafio para o qual não fomos preparados: integrar o momento atual com as conseqüências futuras. O prazer imediato e constante, sem previsão do amanhã, vai nos remeter futuramente a uma frustração maior. O homem é um animal que antecipa.
O papel do pensamento é esse: juntar o passado, o presente e o futuro. É verdade que vivemos no presente e só no presente. Que nossa vida é agora. Como nossa existência é um processo, não podemos perder a memória do que aprendemos e nem desdenhar do que pode nos suceder. Viver o presente não significa fazer apenas o que nos der na cabeça, tudo o que queremos, independente das conseqüências. Ser responsável significa responder tanto às nossas necessidades, aos desejos, quanto às obrigações.
A verdadeira liberdade é o casamento fiel entre o que desejo, o que posso e o que devo. Essa permanência ilusória nos mesmos hábitos, na mesma forma de viver, na mesma imobilidade tem um nome: acomodação. A acomodação é o contrário da iniciativa. Todos nós sabemos, como o leitor, as mudanças a serem realizadas em nossa vida. A dificuldade está em abrir mão da chamada “zona de conforto”, aquele espaço psicológico, aparentemente sólido, e embrenhar-se no desconhecido das novas coisas. O contrário da vida não é a morte. É a repetição. E nós nos acomodamos por medo. Medo de errar ou medo de se arrepender. E, aí, perdemos a capacidade de sonhar, ou seja, a esperança. O que nos move na vida é saber que o nosso destino pessoal é o desenvolvimento contínuo.
Antônio Roberto
Picture by Toulouse-Lautrec

A cegueira


A cegueira que cega cerrando os olhos, não é a maior cegueira; a que cega deixando os olhos abertos, essa é a mais cega de todas: e tal era a dos Escribas e Fariseus. Homens com os olhos abertos e cegos.
Com olhos abertos, porque, como letrados, liam as Escrituras e entendiam os Profetas; e cegos, porque vendo cumpridas as profecias, não viam nem conheciam o profetizado.
Esta mesma cegueira de olhos abertos divide-se em três espécies de cegueira ou, falando medicamente, em cegueira da primeira, da segunda, e da terceira espécie. A primeira é de cegos, que vêem e não vêem juntamente; a segunda de cegos que vêem uma coisa por outra; a terceira de cegos que vendo o demais, só a sua cegueira não vêem.
Pe. António Vieira
Picture by Diego Velázquez

O homem que se perdeu...


Todos nós sabemos que um homem que se tenha perdido numa parte desconhecida da cidade, especialmente se for à noite, nunca mais consegue caminhar direito através das ruas.
Alguma força desconhecida parece impeli-lo, a cada momento, de virar para outra rua que encontre no seu caminho.
Dostoievski
Picture by Paolo Veronese

19 de mar. de 2008

Espírito especial


É preciso um espírito especial para se fazer fortuna, sobretudo uma grande fortuna; não se trata nem do espírito bom nem do belo, nem do grande nem do sublime, nem do forte nem do delicado; não sei precisamente de qual se trata, e espero que alguém me possa esclarecer a tal respeito
Jean de La Bruyère
Picture by Degas

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...